terça-feira, 22 de agosto de 2017

OLHAR AS CAPAS


Letras

Manuel Alegre
Colecção Poesia – Nosso Tempo nº 9
Centelha, Coimbra, Junho de 1974

S (ésse)

Direi de meu tempo que havia um S
havia uma sombra e um silêncio
havia um S de sigla e de suspeita
com suas seitas e seus sicários.

Não sei se o signo não sei se sina
não sei se simplesmente sujo.
Ou só servil. Ou só sevícia.

Havia um S de saturno
havia um susto
havia um S de soturno
havia um S de sol.

De meu tempo direi
que havia um S
de sepulcro.

Sentinela. Sentinelas.

Ou talvez selva. Talvez serpente.
S de sebo e de sebenta: seco seco.

E também senão. E também senil.

De meu tempo direi
Que havia um S
sem sentido.

E também Setembro. E também solstício.
Saga e safra.
Ou talvez semente. Ou talvez segredo.

Havia um S de sal e sílex
havia um silvo.
Havia uma sílaba ciciada.

E também o sonho: entre suar e ser.
(Como um soluço como um soluço).

De meu tempo direi
que havia um S
de sol e som.
Havia setembro e um assobio
contra um S de sombra e de silêncio.

Sem comentários: