Letras
Manuel Alegre
Colecção Poesia –
Nosso Tempo nº 9
Centelha, Coimbra,
Junho de 1974
S (ésse)
Direi de meu tempo que havia um S
havia uma sombra e um silêncio
havia um S de sigla e de suspeita
com suas seitas e seus sicários.
Não sei se o signo não sei se sina
não sei se simplesmente sujo.
Ou só servil. Ou só sevícia.
Havia um S de saturno
havia um susto
havia um S de soturno
havia um S de sol.
De meu tempo direi
que havia um S
de sepulcro.
Sentinela. Sentinelas.
Ou talvez selva. Talvez serpente.
S de sebo e de sebenta: seco seco.
E também senão. E também senil.
De meu tempo direi
Que havia um S
sem sentido.
E também Setembro. E também solstício.
Saga e safra.
Ou talvez semente. Ou talvez segredo.
Havia um S de sal e sílex
havia um silvo.
Havia uma sílaba ciciada.
E também o sonho: entre suar e ser.
(Como um soluço como um soluço).
De meu tempo direi
que havia um S
de sol e som.
Havia setembro e um assobio
contra um S de sombra e de silêncio.
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