O Barradas tinha
lágrimas nos olhos. Eu falara-lhe com uma voz pequenina, que não ralhou nunca.
Disse-lhe que tenho confiança nele e tenho mesmo. O Amor converte os pecadores,
quanto mais o Barradas que é um rapazinho manso e bom!
Primeira lei:
acreditar no aluno. Se o campo é bom e se a semente é bem lançada, até uma
inicial vontade de enganar a contraria, agindo no espírito do aluno a nossa fé.
E depois há o ficar ou não ficar tranquila a nossa consciência. Suponhamos,
fora da escola, que um homem me diz: «Venho a pé do Algarve à procura de
trabalho. Estou morto de cansaço e de fome e gastei os últimos cobres. Tenho
vergonha de pedir esmola». Suponhamos agora que eu lhe digo: «Se não se
importa, eu dou-lhe alguns escudos. Não +e esmola, nem é talvez «dar» a palavra
que devia empregar, porque isto é um empréstimo: amanhã posso eu precisar e
outro me há-de socorrer; me há-de pagar a dívida que o senhor contraiu comigo».
Pois bem: «Tu és um trouxa» - poderão dizer. «Foste no conto do vigário e o
homem ri-se de ti, enquanto come o teu dinheiro». E que me importa? Prefiro
arriscar-me a «ser levado» a arriscar-me a deixar um homem morrer de fome. Sou
levado, mas fico lavado. O que me enganou é que não.
Sebastião da Gama em Diário
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