O Homem Que Sabia A Mar
Armando Silva
Carvalho
Capa: Miguel Imbiriba
Publicações Dom
Quixote, Lisboa Abril de 2001
- É aqui a famosa Casa Cor-de-Rosa?
Fala em francês, mas não parece pedante. Nem parece ter vindo para se
sentar no rosto da Europa. E não grita. Apresenta-se.
- Sou Tana Macgrave. Marquei uma reserva há tempo para vir descansar no
apocalipse e afinal acabei por vir, mas para trabalhar. João Silvestre não
está?
Rebeca pensa um pouco, fixa-a, e depois reconhece o nome. E por cima
das lágrimas, ri com uma tal frescura que faz chorar a própria actriz. Ela que
só conseguia fazê-lo no palco ou frente às câmaras.
- João Silvestre foi ao mar. Ou antes, anda no mar. – Rebeca fez uma
pausa. – Mas, por favor, madame, entre. A Casa Cor-de-Rosa estava à sua espera
para se começarem as rodagens. Tem um bonito nome, o filme, Entre este Mundo e
o Outro e Amor é Absoluto. Talvez um pouco comprido, não acha?
Foi a vez agora de Tana Macgrave sorrir. E dizer:
- Tem razão, Rebeca. É Rebeca, não é? Mas vai ficar mais curto na versão
americana. Eles simplificam tudo. A Europa é que está cada vez mais complicada.
E entraram as duas para a sala e ouviram o mar em estereofonia.
Eu, na minha cadeira de rodas, continuei a pintar.
Mas elas não me vêem, pai Silvestre.
São Vozes.
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