foi assim que me sentei neste porto e nestas pedras
ao fim da tarde
e vi anoitecer quando ao longe as luzes se acendiam
na outra margem do rio.
foi assim neste porto e nestas pedras que num tempo
de excessiva solidão escrevi as mais antigas elegias
do desespero.
é certo
que não podes
conceber o fascínio dos lugares alucinantes
da memória
os circos pobres e os
clowns da primeira alegria
o profundo
esquecimento das cidades de província.
contudo
estou a ver-te aí
sentada
um pouco à direita
das pequenas coisas
um livro a meio desde
o inverno o azul demasiado das paredes
as janelas fechadas
donde nunca mais pudeste ver o mar.
foi aqui
ao fim de uma tarde em junho
o sexto mês
foi nestas pedras e neste porto que ao longe eu vi
morrer a grande cidade envolta nas chamas do ocidente destruído.
José Agostinho
Baptista em Deste Lugar Onde
Sem comentários:
Enviar um comentário