quarta-feira, 27 de junho de 2018

OLHAR AS CAPAS


O Cadáver de Argila

Mary Kelly
Tradução: Álvaro Simões
Capa: Lima de Freitas
Colecção Vampiro nº 193
Livros do Brasil, Lisboa s/d

Havia já duas semanas que eu espiava Corinna. Pagavam-me para o fazer. Por isso, quando, às duas e meia da tarde, do meu posto de observação na biblioteca a vi sair da sala de desenho, levantei-me com a maior naturalidade deste mundo e fui atrás dela. Apenas com uma diferença: após os acontecimentos daquela manhã, nem sequer me dava ao trabalho de me esconder.
Ela dirigiu-se ao vestiário das mulheres e, no limiar, fez quase meia volta e olhou-me.
- Por que não entra? – zombou , sem convicção.
No fim de contas, por que não? Era uma hora em que não corríamos o mais pequeno risco de que nos incomodassem. Por conseguinte seguia-a até ao interior do vestiário.
Podia avistar-se, pela pequena fresta, uma parte de Stoke-on-Trent; uma fileira de fornos que preenchia o intervalo existente entre os edifícios de tijolo enegrecido e, mais adiante, a chaminé de uma fábrica e o cimo de um monte de escórias. Uma nuvem de fumarada cinzenta, fundindo-se com a morrinha, mascarava por completo o horizonte.

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