O Cadáver de Argila
Mary Kelly
Tradução: Álvaro
Simões
Capa: Lima de Freitas
Colecção Vampiro nº
193
Livros do Brasil,
Lisboa s/d
Havia já duas semanas que eu espiava Corinna. Pagavam-me para o fazer.
Por isso, quando, às duas e meia da tarde, do meu posto de observação na
biblioteca a vi sair da sala de desenho, levantei-me com a maior naturalidade
deste mundo e fui atrás dela. Apenas com uma diferença: após os acontecimentos
daquela manhã, nem sequer me dava ao trabalho de me esconder.
Ela dirigiu-se ao vestiário das mulheres e, no limiar, fez quase meia
volta e olhou-me.
- Por que não entra? – zombou , sem convicção.
No fim de contas, por que não? Era uma hora em que não corríamos o mais
pequeno risco de que nos incomodassem. Por conseguinte seguia-a até ao interior
do vestiário.
Podia avistar-se, pela pequena fresta, uma parte de Stoke-on-Trent; uma
fileira de fornos que preenchia o intervalo existente entre os edifícios de
tijolo enegrecido e, mais adiante, a chaminé de uma fábrica e o cimo de um monte
de escórias. Uma nuvem de fumarada cinzenta, fundindo-se com a morrinha,
mascarava por completo o horizonte.
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