sábado, 9 de junho de 2018

ELEVADOR DA GLÓRIA


Na mais profunda das confusões
Nas vozes alteradas dos turistas
A pedirem desculpa dos empurrões
Aos vulgares passageiros, aos jornalistas

A quem todos os dias te percorre
Quase sem dar pelo ângulo da subida
E em cada viagem também morre
Ou (pelo menos) deixa um pouco de vida

Às crianças com três anos de idade
Na voz hesitante dos seus pais
Perdida entre o apelo da verdade
E os gostos da poupança, naturais

A todos que comigo viajaram
E posso ter como testemunhas
E este fado comigo cantaram
Numa guitarra velha como as unhas

A todos direi; tomem nota por favor:
não há lugares sentados neste elevador.

José do Carmo Francisco em Transporte Sentimental

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