sexta-feira, 22 de junho de 2018

OLHAR AS CAPAS


O Mistério da Arca de Noé

Ellery Queen
Tradução: Elisa Lopes Ribeiro
Capa: Cândido Costa Pinto
Colecção Vampiro nº 80
Livros do brasil, Lisboa s/d

Enterrado numa poltrona de couro, diante da janela, com os pés calçando huarachos, as alpercatas mexicanas, cruzados em cima da máquina de escrever, e um grande copo de rum gelado na mão, Ellery matutava no cadáver. Para ele, era como se ela estivesse viva, estendida a seus pés. Examinava os sintomas da vida, entre dois goles, e não encontrava a chave do enigma. Oh! Estavam ainda no princípio de uma investigação, que prometia sair do vulgar, e o rum ajudava.
Caso curiosos! A morta ainda estremecia. Já em Nova Iorque, Ellery fora prevenido dessa ilusão criada pelos reflexos resultantes de uma morte violenta. «Parece impossível, tinham acrescentado, mas o corpo já entrou em decomposição, e qualquer pessoa capaz de distinguir uma camélia de um cardo, pode verificar o facto.» A vítima, que Ellery conhecera na flor da idade, era uma criatura formosa e saudável, cobiça de todo os homens, objecto folgazão de desejos e maldições… Como aceitar a ideia de que semelhante vitalidade for bruscamente abatida?
Sim, no local do crime – por coma, exactamente, porque o pavilhão que ele alugara parecia um ninho alcandorado na árvore mais alta das colinas próximas – Ellery duvidava ainda. A bela moça jazia ali, sob uma fina camada de bruma; estremecia ligeiramente e diziam que estava morta.
Hollywood, terra de ilusões,
Assassinada, concluía o relatório da autópsia, transmitido pela televisão.
Sob um céu levemente azulado pelos grandes calores, a colina verdejante e florida descia até à cidade que resplandecia ao sol. Que dia radioso! Muito à vontade no seu trajo de Adão no Paraísos terrestre, Ellery saboreava o rum e contemplava o panorama.

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