domingo, 3 de junho de 2018

POEMA PÓSTUMO


Duas horas em breve.
                Estás deitada, talvez.
Na noite,
               como um Oka de prata
                       a Via Láctea corre.
O tempo é meu, e os relâmpagos
              que eram meus telegramas,
não mais te virão
             despertar,
                             atormentar.
Como se diz: encerra-se o incidente.
A canoa do amor
            foi-se quebrar de encontro ao quotidiano.
Eis-me quite contigo.
           E é inútil o passar em revista
penas,
           azares
                         e recíprocas feridas.
Vê,
          que paz no universo.
A noite
         impôs ao céu
                        a servidão de tantas
                                        tantas estrelas.
Chegou a hora
        Em que a gente se ergue e em que fala
aos séculos,
       à História,
                      ao universo…

Maiakowski em Autobiografia e Poemas

Nota do tradutor: Oka: um grande rio, afluente do Volga

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