quarta-feira, 27 de junho de 2018

BATE A NOITE AS ASAS CONTRA O POENTE


Bate a noite as asas contra o poente
e tinge de escuridão as águas côncavas
que vêm dormir nos poços de silêncio
abertos sobre o mar
enquanto a risca do sol
lança uma ponte de luz
até às distâncias oceânicas
onde o dia vai alto.

Parte destas penedias um aceno
de quem viu nascer Vénus das ondas,
vogar o carro de Neptuno,
Hércules abrir a pulso o caminho a Colombo.

Um aceno distante.
Até vós, dominadores efémeros
de napalme, jazz e plástico,
coisas de que ninguém se lembrará
daqui a três mil anos.

Nem dos mortos
que jamais ressuscitarão.

João José Cochofel em 46º Aniversário

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