O Fantasma e a Viúva Muir
R. A. Dick
Colecção Arco-Íris nº
7
Editorial O Primeiro
de Janeiro, Porto, 1947
- Agora nunca mais te sentirás cansada – murmurou a voz do capitão. –
Vem Lúcia, vem, minha querida!
Lucy levantou-se e, como por milagre, a dor e o cansaço abandonaram-na.
Dirigiu-se para ele, alegremente, ligeira como uma rapariga.
«Mas quem seria então aquela pessoa sentada na cadeira por ela deixada
ainda agora? Quem era?... Como fora ali parar? – Perguntou Lucy,
surpreendida!... – Sim quem era aquela mulher velhinha?»
- Torna a olhar, Lúcia – disse o capitão, com muita doçura.
E Lucy, olhando melhor, viu os seus anéis nos dedos e o cordão à volta
do pescoço da outra.
- Aquela?!... Aquela sou eu! – murmurou.
- Eras tu, Lúcia!...
- Mas eu não me sinto assim… tão pequenina, tão gasta e tão frágil!
- Aquilo é só o invólucro que usavas na terra – tornou o capitão – e
que largaste como as cobras largam a pele velha, quando não precisam mais dela.
Ah! Çúcia, agora estamos juntos, como nos fora destinado.
- Sinto-me tão diferente, tão feliz!...
No quarto reinava um grande sossego. Só o relógio, com o seu
tique-taque sem remorsos. Marcava os mecânicos minutos criados pelos homens,
para medir as alegrias e tristezas das suas vidas terrestres. O corpo da
pequenina srª Muir estava sentado, muito quietinho, na sua cadeira, e a cara
continuava inclinada para o lado. Os seus olhos pareciam fitar os olhos do
retrato do capitão Gregg, suspenso na parede.
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