A correspondência de António José Saraiva com Óscar Lopes é um osso duro de roer. São cartas longas, abarcando diversos temas e não é fácil extrair pontos de entendimento para quem não as conhece.
Há que nos reduzirmos
a pontos que não necessitam de muitos acrescentos.
Como o início desta
carta, datada de Abril de 1966, em que Saraiva retoma as suas preocupações com falta
de dinheiro:
Meu Caro
Mando-te por portador mais duas folhas revistas da História da
Literatura. Não me lembro já do que
combinámos, mas acho que não estou atrasado.
Estou preocupado com a falta de notícias do editor. Creio que ele tinha
proposto pagar-me uma importância contra a entrega de 300 páginas de original,
que há muito excedi já. Será que ele mudou de ideias? Ou haverá qualquer
preocupação quanto a um futuro capricho da censura? Vê se me podes mandar uma
palavrinha sobre isto, informando-me e aconselhando-me. A verdade é que contava
com esse dinheiro, e sem ele não poderei ver os meus filhos nas férias – e há
dois anos que os não vejo. Diz-me se te parece conveniente eu escrever ao
homem. Antes de Julho precisava de saber com o que posso contar.
Na mesma carta fala
de um artigo que Óscar Lopes publicara em O Comércio do Porto sobre A Paixão de Almeida Faria:
Ainda não acabei de ler A Paixão
de Almeida faria. É sem dúvida um livro excepcional, embora ainda pouco maduro.
Tem certos pontos de contacto com a Agustina. Gostei de ler a tua crítica, é
preciso da tua parte uma certa coragem para publicares coisas daquelas. Mas
estamos numa idade em que ou dizemos o que sentimos ou o deixamos escapar.
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