segunda-feira, 11 de junho de 2018

IDADE PARA DIZERMOS O QUE SENTIMOS


A correspondência de António José Saraiva com Óscar Lopes é um osso duro de roer. São cartas longas, abarcando diversos temas e não é fácil extrair pontos de entendimento para quem não as conhece.

Há que nos reduzirmos a pontos que não necessitam de muitos acrescentos.
Como o início desta carta, datada de Abril de 1966, em que Saraiva retoma as suas preocupações com falta de dinheiro:

Meu Caro

Mando-te por portador mais duas folhas revistas da História da Literatura. Não me lembro já do que combinámos, mas acho que não estou atrasado.
Estou preocupado com a falta de notícias do editor. Creio que ele tinha proposto pagar-me uma importância contra a entrega de 300 páginas de original, que há muito excedi já. Será que ele mudou de ideias? Ou haverá qualquer preocupação quanto a um futuro capricho da censura? Vê se me podes mandar uma palavrinha sobre isto, informando-me e aconselhando-me. A verdade é que contava com esse dinheiro, e sem ele não poderei ver os meus filhos nas férias – e há dois anos que os não vejo. Diz-me se te parece conveniente eu escrever ao homem. Antes de Julho precisava de saber com o que posso contar.

Na mesma carta fala de um artigo que Óscar Lopes publicara em O Comércio do Porto sobre A Paixão de Almeida Faria:

Ainda não acabei de ler A Paixão de Almeida faria. É sem dúvida um livro excepcional, embora ainda pouco maduro. Tem certos pontos de contacto com a Agustina. Gostei de ler a tua crítica, é preciso da tua parte uma certa coragem para publicares coisas daquelas. Mas estamos numa idade em que ou dizemos o que sentimos ou o deixamos escapar.

Sem comentários: