Um certo tipo de vida quotidiana (horas fixas, ambientes fechados, as
mesmas pessoas, formas e locais de oração) induzia a pensamentos sobrenaturais.
Saia-se deste esquema e os pensamentos evaporam-se. Somo feitos de hábitos.
O local próprio para a tua pessoa é a avenida de Turim, aristocrática e
modesta, primaveril e estival, calma, discreta e vasta, onde se formou a tua
poesia. A matéria vinha de muitos sítios, mas aqui é que encontrava a forma.
Esta avenida, e o pequeno café que ali ficava, foram o teu quarto, a
janela aberta para as coisas. Quando te volta o instinto de poetar, procuras
estes locais. Para narrar, não. As Recordações de Duas Estações foram escritas
no café e, no fundo, também Terras do meu país e a Tenda. Portanto…
O facto é que perdeste o gosto de ver, de sentir, de acolher e agora
róis-te todo.
Cesare Pavese em Ofício de Viver
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