Para vós o meu
canto, companheiros da vida!
Vós, que tendes os
olhos profundos e abertos,
vós, para quem não
existe batalha perdida,
nem desmedida
amargura,
nem aridez nos
desertos;
vós, que modificais
um leito dum rio;
- nos dias difíceis
sem literatura,
penso em vós: e
confio;
penso em mim e
confio;
- para vós os meus
versos, companheiros da vida!
Se canto os búzios,
que falam dos clamores,
das pragas imensas
lançadas ao mar
e da fome dos
pescadores,
- penso em vós,
companheiros,
que trazeis outros
búzios para cantar...
Acuso as falas e os
gestos inúteis;
aponto as ruas
tristes da cidade
a crivo de bocejos
as meninas fúteis...
Mas penso em vós e
creio em vós, irmãos,
que trazeis ruas
com outra claridade
e outro calor no
apertar das mãos.
E vou convosco. -
Definido e preciso,
erguido ao alto
como um grito de guerra,
à espera do Dia de
Juízo...
Que
o Dia do Juízo
não é no céu... é
na Terra!
Sidónio Muralha em Novo Cancioneiro
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