«A
opinião corrente é que O lobo da montanha não vale grande coisa. Mas Silvana
Mangano vale. A jovem atriz italiana, com quem o Rio não simpatizou muito, é um
verdadeiro pão da terra. Uma mulher como as pintavam esses grandes sensoriais
que foram Giorgiorie, na Renascença, e Renoir, no Impressionismo. Uma mulher
como as esculpe Maillol, como as desenha Carlos Leão; como as descreviam
Flaubert e Stendhal; como as poetizaram Camões, Whitman, Baudelaire. Seres
moços e plenos, de formas pletóricas mas leves, belos braços roliços, rosto
pesado e sensual, transpirando saúde e fecundidade.
Hoje em dia esse tipo de mulher, embora apreciado à larga pelos homens, caiu
muito no conceito das mulheres, que preferem o tipo criado por Vertès, de onde
saiu o modelo moderno das revistas de moda - a mulher sem formas, sem busto,
pousada em hastes longas e elegantes, de rosto magro e olhos puxados -, sempre
em poses sofisticadas, os pés colocados em ângulos de balé, as mãos em posições
de dança tibetana. Esse é o gênero de mulher apreciada pelos brotinhos de hoje
em dia. Nada de Vênus de Milo. O ideal são as terracotas de Tânagra, as
esculturas africanas, a linha Modigliani.
Silvana Mangano acha evidentemente o contrário. A bela italiana exibe suas
rotundidades com um gosto de dar gosto. Sua boca moça e fresca abre-se no rosto
macio e irregular, num lindo sorriso de quem sabe estar dando as cartas. Sua
desenvoltura física mostra bem que ela não dá muita bola ao tipo longilíneo.
Silvana venceu ao dançar seu famoso jitterbug em Arroz amargo - um feito que
muito deve ter surpreendido as bobby soxers de todo o mundo, com certeza a
pensá-la incapaz, nos seus sessenta quilos prováveis, de toda aquela graça e
leveza.«
Vinicius
de Moraes em Cinema
Legenda:
Silvana Mangano em O
Lobo da Montanha
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