domingo, 2 de junho de 2024

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...


Dizem as diversas fábulas que, durante largos dias, finais dos anos 60, Natália Correia andou às voltas por Lisboa para encontrar um sítio onde pudesse concretizar um dos seus muitos sonhos: um bar-tertuliano estilo belle époque dos cafés de Paris onde acontecessem beberes, comeres, poesia, música e muita cavaqueira.

No Largo da Graça, junto à Vila Sousa, vila operária, que ao contrário da Vila Berta não mereceu os cuidados do escriba José Cardoso Pires, no seu Livro de Bordo, Livro de Bordo, encontrou uma velha carvoaria e entusiasmou-se.

Chamou-lhe O Botequim.

Por ali, antes e depois de 25 de Abril, passou toda, ou quase toda, a intelectualidade, portuguesa, gente interessante, nem toda, também políticos, militares, que dissertavam sobre cultura, política e muita má-língua.

Melo Antunes pelas suas ideias progressistas teve vários bates-boca com Natália.

José Saramago também teve direito a uma natalice.

Segundo Joaquim Vieira, no seu mal-amanhado livro no seu mal-amanhado livro sobre o Nobel português, conta:

«Até mesmo a intuitiva Natália Correia, em conversa que terá tido com Saramago a propósito de O Evangelho Segundo Jesus Cristo se alhear da temática nacional, entrevira uma aproximação ao Nobel – no relato de Fernando Dacosta como testemunha: »A Natália falava da “desterritorialização” da literatura em Portugal, de autores que escolhiam temas que não tinham que ver com o país, pois achavam que assim eram mais fáceis de traduzir e editar lá fora. E disse ao Saramago, a propósito disso: "E tu também enveredaste por esse processo, porque queres ganhar o Prémio Nobel. Vais ganhá-lo, mas como és um tipo sério, vais voltar aos temas portugueses.”»

 A um canto do bar havia um piano e por aquele tempo gente vária andava com uma viola a tiracolo. Bebia-se do fino, teceram loas ao Rosbife da casa, também ouvi dizer que por lá se comia um razoável Bacalhau à Brás.

Quando, após a sua morte, O Botequim deixou de ser da Natália Correia, ainda funcionou uns meses como bar mas, como faltava a presença real da Diva, acabou por fechar.

A Associação José Afonso chegou a sediar-se por ali e num São Martinho, no pátio central da Vila Sousa,  organizou uma castanhada, comeram-se bifanas e entremeadas, beberam-se fartos  packs de tintol.

Este menú de um café francês, datado de 1911, que encima o paleio, foi, nesse findar de tarde, por lá encontrado.

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