O Camus explica na peça que para evitar mal-entendidos é preciso não usar artifício. «Se o homem quiser que o reconheçam, diga simplesmente quem é.» – Isso era bom, era. Mas nunca ninguém nos reconhece. Mesmo quando dizemos quem somos. Sobretudo quando dizemos quem somos. Tu próprio, Henrique… desconfiaste, descreste de um amor que se te oferecia em bloco…
Ferveu. Thermos. Copo.
Frasco. Colher de chá. Tudo na bandejinha. Permanente, esta interrogação. Não
me agarro a certezas. Estou sempre pronta a rever as minhas ideias. Mas não me
integro em nenhum meio. Não lhes pertenço. Porquê? A sensação, por vezes, de me
desintegrar… Oh, Henrique…»
- pronto. A bandejinha. Afasta o candeeiro.
– Lá fora, apagaste a
luz, amor?
– Apaguei.
– E fechaste o gás, meu
amor?
– Sim, fechei.
- Mas há uma porta que
range… Tinha de ser…
– Eu vou fechá-la,
amor, eu vou já ver. – Era a porta da varanda. Abri-a de par em par. A fresca
noite entrou. É noite. É Junho, amor, e estamos vivos. E não estamos sozinhos.
Oh, esta alegria de não estarmos sós.
Legenda: Arraial da Academia de Santo Amaro, fotografia de Inês Leote
copiada do Mensagem de Lisboa.
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