sexta-feira, 21 de junho de 2024

SABES, AS AVES

   sabes, as aves aquáticas já não pernoitam junto ao mar nem por entre os nossos dedos de areia

  sobem-nos vozes calcárias à garganta, estrangulo-me neste humilde canto, fico atento ao eterno silêncio do teu castelo

  às vezes escuto o teu cantar, raramente, é certo...mas quando cantas saem-te nomes puros da boca e sorrisos diáfanos de cristais
  os lábios incendeiam-se com vinho, teu corpo adquire o sabor misterioso das algas
  no crepúsculo expande-se o perfume a moreia frita, teu olhar é o mosto dos nossos desejos

  dançamos à roda dum mastro, saia em papel de seda bordada com búzios...uma quadra flutua pela noite de nossos cabelos
  rodopias, e os teus amores são relembrados pela noite adiante
  espalham-se estrelas cadentes, papoulas breves, junco molhado

  e o mar enche-se novamente de pássaros, embarcações semelhantes a beijos

que nos percorrem de alegria

Al Berto de Mar-de-Leva em O Medo

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