sabes, as aves aquáticas já não pernoitam junto ao mar nem por entre os nossos dedos de areia
sobem-nos vozes calcárias à garganta, estrangulo-me neste humilde canto, fico
atento ao eterno silêncio do teu castelo
às vezes escuto o teu cantar,
raramente, é certo...mas quando cantas saem-te nomes puros da boca e sorrisos
diáfanos de cristais
os lábios incendeiam-se com vinho, teu corpo adquire o sabor misterioso das
algas
no crepúsculo expande-se o perfume a moreia frita, teu olhar é o mosto dos
nossos desejos
dançamos à roda dum mastro, saia em
papel de seda bordada com búzios...uma quadra flutua pela noite de nossos
cabelos
rodopias, e os teus amores são
relembrados pela noite adiante
espalham-se estrelas cadentes, papoulas
breves, junco molhado
e o mar enche-se novamente de pássaros, embarcações semelhantes a beijos
que nos percorrem de alegria
Al Berto de Mar-de-Leva em O Medo
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