Na
primeira manhã da revolução
todos
os nomes mudaram. As tuas mãos
eram
pássaros os teus braços asas
os
teus lábios átrios de canções que sobrevoaram
alegrias
irrecusáveis. Os milagres sucediam-se
sem
qualquer comando divino. Os desapossados
de
tudo eram providos da maior esperança. As flores
não
murchavam. Os peixes multiplicavam-se
na
brasa diária dos afectos. Nas manhãs seguintes
acordávamos
sempre à espera da queda
de
mais um velho costume repressivo. A garganta
habitava
todas as palavras que lutavam
contra
os velhos saberes quantitativos
que
só perguntavam quantos dólares tem um lucro
ou
quantos litros tem um almude. Trocámos o nome
das
praças das pontes e das avenidas. Levantámos
as
cabeças curvadas com vozes ao alto. A Utopia
do
Bem e da Equidade invadia-nos o peito
e
nenhuma morte se atrevia a silenciar
este
novo país contaminado de Futuro.
Inês
Lourenço
Nota do Editor: Poesia Pública é uma iniciativa do Museu e Bibliotecas do Porto comissariada por Jorge Sobrado e José A. Bragança de Miranda. Ao longo de 50 dias publicaremos 50 poemas de 50 autores sobre revolução. Este poema foi tirado do Público de 20 de Abril de 2024.
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