Lendas
e Narrativas
Tomo
I
Alexandre
Herculano
Livraria
Bertrand, Lisboa
O
dia 6 de Janeiro do anno da Reedempção 1401 tinha amanhecido puro e sem nuvens.
Os campos, cubertos aqui de relva, acolá de searas, que cresciam a olhos vistos
com o calor benéfico do sol, verdejavam ao longe, ricos de futuro para o
pegureiro e para o lavrador. Era um destes formosíssimos dias de inverno mais
gratos do que os do estio, porque são de esperança, e a esperança vale mais do
que a realidade; destes dias, que Deus só concedeu aos paizes do occidente, em
que os raios de sol, que começa a subir na eclípida, estirando-se vividos e
trémulos por cima da terra enegrecida pela humidade e errando por entre os
troncos pardos dos arvoredos despidos pela geada, se assemelham a um bando de
creanças, no primeiro viço da vida a folgar e a rolar-se por cima da campa,
sobre a qual há muito sussurrou o ultimo ai da saudade, e que invadiram os
musgos e abrolhos do esquecimento.
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