quarta-feira, 12 de junho de 2024

PARA AlÉM DO ARCO-ÍRIS


 VOGUE  - LD 600-30


Face 1

Tous Les Garçons Et Les Filles – Ça A Raté – La Fille Avec Toi – Oh, Oh Chéri – Le Temps de L’ Amour – Il Est Tout Pour Moi

Face 2

On Se Plait – Ton Meilleur Ami – J’Ai Jeté Mon Coeur – Il Est Parti Un Jour – Je Suis D’Accord – C’est A L’Amour Auquel Je Pense

Françoise Hardy é acompanhada por Roger Samyn e a sua orquestra.

Acalenta um velho sonho, com o seu quê de kitsch: possuir uma casa, como manda o raio da sapatilha, em que as paredes de uma das salas seria toda forrada com capas de LPs.

Claro que uma das capas a colocar na tal parede, será esta de Françoise Hardy.

Guarda a ideia de dizer para dentro de si mesmo, que com Hardy o único estado de espírito possível será ouvi-la, ouvi-la, ouvi-la e ascender ao espaço do sublime.

Durante muitos dias, longos dias que se tornaram parte da uma vida, ouviu este disco, em que a contemplação da capa fazia parte de um ritual, esta coisa de estarmos vivos.

Estão a olhar a capa mas ele, qual voz off, narra:

A Françoise Hardy está com uma chapéu-de-chuva, inevitavelmente de Cherbourgo,  os cabelos ao vento e olha-nos com uma expressão que nos deixa para lá do arco-íris.

Tem uma ponta de gosto em dizer que a Françoise Hardy é rapariga do seu tempo, apenas um ano, e escassos meses, mais velha. 

Quando a ouviu pela vez primeira, uma voz doce capaz de tudo, um charme juvenil que ninguém mais teve, num EP da Vogue onde morava Tous les garçons et les Filles, que o emocionou até aos limites da ternura.

Desde esse único momento, os tempos, fossem dias de Outono com chuva a bater nas janelas, ou dias brilhantes de Verão, ou as grandes noites de Inverno, passaram a ser tempos de glória.

Tempos em que os dias nasciam e findavam de uma outra maneira.

Perdoem-lhe este ar de louvação com o seu quê de nítido exagero.

Acontece, mas não é caso único de espantamento.

Bob Dylan, quando em 1966 deu um concerto no Olympia de Paris, quis conhecê-la, mas antes já  a tinha feito deslizar num longo poema a que chamou Some Other Kinds of Songs que escarrapachou na contra capa de Another Side of Bob Dylan.

Françoise Hardy nas margens do Sena, Notre Dame em fundo, estudantes da Sorbonne em bicicletas, namorados, livros velhos, barcos, pescadores, olhares espantados de turistas…

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