segunda-feira, 2 de novembro de 2015

PARA TODOS A MORTE TEM UM OLHAR


Dia de Finados, ou Dia dos Fiéis Defuntos ou Dia de Finados.

A minha avó marcava o dia de finados acendendo, numa grande cómoda, de madeira muito antiga, lamparinas de azeite, que se reduziam a um pires com azeite e um paviozinho, colocadas junto aos santos de devoção e às fotografias dos seus mortos.

A minha mãe seguiu-lhe as pisadas, mas já não com tanto fervor e cedo abandonou a prática.

Aos poucos, vai-se perdendo o culto dos mortos.

A incineração emprestou ao ritual da morte, outros olhares.

Creio que foi em José Tolentino Mendonça que li a interrogação:

E se pensar na morte fosse a melhor maneira de dar valor à vida?


Escreveu ainda:

À beira do fim há sempre tanta coisa que começa! 

Mas o poeta russo, Vladimir MaiaKovski, expressava:

Não é difícil morrer. Viver é muito mais.

Outro russo, Anton Tchekov:

Procurava o seu habitual medo, o anterior medo da morte e não o encontrava. Onde estará ela? Qual morte” Não tinha medo nenhum, porque também não havia morte.
Em lugar da morte havia uma luz.
- É então isto? – disse ele de súbito em voz alta. Que alegria!
Para ele tudo aquilo aconteceu num único instante e o significado desse instante já não mudou. Mas para aqueles que estavam presentes a agonia dele prolongou-se ainda por duas horas. Qualquer coisa fervilhava no peito dele; o seu corpo extenuado estremeceu. Depois o fervilhar e os estertores tornaram-se menos frequentes.
- Acabou-se! – disse alguém por cima dele.
Ele ouviu estas palavras e repetiu-as na sua alma. “Acabou-se a morte – disse a si mesmo – Já não existe.”
Inspirou o ar, parou a meio de um suspiro, esticou-se e morreu.

E há aquela fala na Grande Paz de Edward Bond:

Se eu pudesse tirar o ar do corpo dos mortos com o cuidado de quem põe um grão de areia em cima de outro, quando o ar lhes saísse da boca talvez as línguas deles falassem e me dissessem porque razão vivemos e sofremos e porque vivemos nesta terra e somos enterrados nela.


Legenda: pintura de Jakub Schikaneder.

O título é uma frase de Cesare Pavese

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