Estamos a chegar às
últimas palavras das Memórias de
Rómulo de Carvalho.
O que se segue, foi o
que o professor, poeta e cientista, quis deixar aos seus tetranetos no dia em que fez 90 anos:
E assim chegámos ao ano de mil novecentos e noventa e seis, ano em que
completei noventa anos de idade no dia 24 de Novembro.
Pesai estas palavras, meus queridos tetranetos, e reconhecei quanta
paciência é necessária para viver tanto tempo. Pode ser que os progressos da
Ciência façam desta idade apenas um valor médio das idades nos anos dois mil e
tal em que vocês caminhem sobre este planeta. Mas também é possível que essa
mesma ciência já tenha destruído as vossas vidas. Por enquanto ainda vamos
aguentando tudo isto. Mas qual será o meu futuro ou seja o vosso presente? As
águas dos rios e dos mares estão cada vez mais poluídas. As fábricas lançam
neles os resíduos do que produzem e envenenam-nos. Os peixes mortos, aos
montões, flutuam nessas águas. Os animais dão-nos carne engordada com os
produtos químicos que s obrigam a engolir. As florestas estão a ser
completamente dizimadas pelo fogo ou pelas serras que as cortam. A atmosfera
está poluída com os produtos gasosos que as fábricas e os motores dos
automóveis libertam incessantemente. Tudo se encaminha para a destruição da
vida sobre a Terra, e creio que todos estamos nisso de acordo, excepto talvez o
papa. E a tudo isto Deus assistirá repimpado na sua poltrona de nuvens.
Rómulo de Carvalho em Memórias
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