Carta de António José SaraivaSaraiva, desde Viry Chattilon, 4 de Julho
de 1969, Para Óscar Lopes:
Na última carta não toquei em vários pontos, e acrescentaram-se-lhe os
d carta que acabo de receber.
O primeiro ´+e que estou em más relações com o Lyon de Castro porque
ele me reeditou a História da Literatura sem me prevenir e aldrabando-me quanto
à tiragem. Se possível, prefiro passar os livros que lá tenho para a Inova. Mas
preciso de um bom advogado disposto a conduzir-me a causa. Conheces algum?
(…)
A tua apreciação sobre o movimento académico português é justa; mas já
me parece injusta a maneira como falas da insurreição de maio em Paris,
abocanhada caluniosamente, ou depreciada manhosamente pelos políticos do PC. Eu
fui testemunha e hoje parece-me um sonho. Foi o homem na sua pureza, na sua
tensão máxima que se bateu contra a natureza naturata sob a forma social. Nunca fales de maio como quem sabe o que foi,
porque é difícil explica-lo até a quem assistiu. Aqui te digo sem hesitação que
foi o maior acontecimento do século XX e que as suas consequências se farão
sentir ao longe no tempo. O que aconteceu em Coimbra (também falo sem saber)
foi um importante acontecimento histórico nacional; o Maio de paris é um
momento da história da civilização; mais: um momento em que a história é
transcendida.
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