Em pleno Verão quente
de 75. Mário-Henrique Leiria mostra-se desesperado, cansado de tudo.
Em carta de 16 de
Julho, a partir de Carcavelos, escreve à querida Isabel dando conta do que vai
acontecendo no pedaço político, à espera de uma qualquer clarificação:
«Sabes do PS e do PPD. Foi como devia ser, sempre te disse. As coisas têm
que se classificar e é realmente realmente conveniente saber quem temos pela
frente. Já te disse há tempos que realmente não precisamos para nada de
social-democratas nem de socialistas (ditos) totalmente comprometidos com a
burguesia fácil e o capitalismo europeu»
O final da carta é
amargo, doloroso… cruel…
«Notícias propriamente minhas, poucas tenho. Tenho andado sem me poder
mexer, mas isso já é hábito consuetudinário . Estou desempregado full time vai
para três meses. O COISO, onde eu tinha acabado de chegar a director interino,
morreu em consequência do “CASO REPÚBLICA”, e de eu não estar disposto a fazer
fretes à social-democracia. Pois.
A Jovília vai ser internada no Instituto do Cancro para ser operada.
Sabe o que tem, e, às vezes, chora. Coitada. Espero que morra. É mais barato.
A mãe anda mais parva. Cansaço, sei lá… às vezes fica tempos sem
perceber nada. Aconselhei-lhe um bife. Não quis. Coisas…
O cão vai óptimo. Morde que se farta.
Olha, sabes menina, estou num cansaço total. Creio que já dei a
colaboração que tinha a dar. Foi pouca… paciência. Mas foi de boa vontade.»
Em Depoimentos Escritos
Em Depoimentos Escritos
Legenda: capa do 2º
número do semanário O COISO, onde Mário-Henrique Leiria chegou a director-interino.
Reprodução tirada do blogue Portadaloja.
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