sexta-feira, 27 de julho de 2018

FOI POUCO...PACIÊNCIA. MAS FOI DE BOA VONTADE


Em pleno Verão quente de 75. Mário-Henrique Leiria mostra-se desesperado, cansado de tudo.

Em carta de 16 de Julho, a partir de Carcavelos, escreve à querida Isabel dando conta do que vai acontecendo no pedaço político, à espera de uma qualquer clarificação:

«Sabes do PS e do PPD. Foi como devia ser, sempre te disse. As coisas têm que se classificar e é realmente realmente conveniente saber quem temos pela frente. Já te disse há tempos que realmente não precisamos para nada de social-democratas nem de socialistas (ditos) totalmente comprometidos com a burguesia fácil e o capitalismo europeu»

O final da carta é amargo, doloroso… cruel…

«Notícias propriamente minhas, poucas tenho. Tenho andado sem me poder mexer, mas isso já é hábito consuetudinário . Estou desempregado full time vai para três meses. O COISO, onde eu tinha acabado de chegar a director interino, morreu em consequência do “CASO REPÚBLICA”, e de eu não estar disposto a fazer fretes à social-democracia. Pois.
A Jovília vai ser internada no Instituto do Cancro para ser operada. Sabe o que tem, e, às vezes, chora. Coitada. Espero que morra. É mais barato.
A mãe anda mais parva. Cansaço, sei lá… às vezes fica tempos sem perceber nada. Aconselhei-lhe um bife. Não quis. Coisas…
O cão vai óptimo. Morde que se farta.
Olha, sabes menina, estou num cansaço total. Creio que já dei a colaboração que tinha a dar. Foi pouca… paciência. Mas foi de boa vontade.»

Em  Depoimentos Escritos

Legenda: capa do 2º número do semanário O COISO, onde Mário-Henrique Leiria chegou a director-interino. Reprodução tirada do blogue Portadaloja.

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