segunda-feira, 2 de julho de 2018

E TÃO TRISTE O QUE ESTÁ A DIZER...


Não deve perder a esperança, Suponho que essa já está perdida, qualquer dia sou capaz de ir a Fátima para ver se a fé ainda pode salvar-me. Tem fé, Sou católica, Praticante, Sim, vou à missa, confesso-me, comungo, faço tudo o que os católicos fazem. Não parece muito convicta, É jeito meu, não pôr muita expressão no que digo. A isto não respondeu Ricardo Reis, as frases, quando ditas, são como portas, ficam abertas, quase sempre entramos, mas às vezes deixamo-nos estar do lado de fora, à espera de que outra porta se abra, de que outra frase se diga, por exemplo esta, que pode servir, Peço-lhe que desculpe o meu pai, e, resultado das eleições em Espanha tem-no trazido nervoso, ontem só falou com pessoas que vieram fugidas de lá, e ainda por cima o Salvador foi-lhe logo dizer que o doutor Reis tinha sido chamado à polícia, Mal nos conhecemos, seu pai nada me fez por que eu deva desculpá-lo, de resto, o caso não terá qualquer importância, segunda-feira vou saber o que me querem, responderei ao que me perguntarem, nada mais, Ainda bem que não está preocupado, Não há motivo, não tenho nada que ver com a política, vivi todos estes anos no Brasil, nunca fui inquietado lá, aqui menos razões ainda há para me inquietarem, para lhe falar francamente nem já me sinto português, Querendo Deus tudo irá correr bem, Deus não haveria de gostar de saber que nós acreditamos que as coisas correm mal porque ele não quis que elas corressem bem, São maneiras de dizer, ouvimo-las e repetimo-las, sem pensar, dizemos Deus queira, só as palavras, provavelmente ninguém é capaz de representar na sua cabeça Deus e a vontade de Deus, vai ter de me perdoar esta petulância, quem sou eu para falar assim, É como viver, nascemos, vemos os outros a viverem, pomo-nos a viver também, a imitá-los, sem sabermos porquê nem para quê, É tão triste o que está a dizer, Peço-lhe desculpa, hoje não estou a ajudá-la, esqueci-me das minhas obrigações de médico, devia era agradecer-lhe ter aqui vindo para emendar a atitude do seu pai, Principalmente, vim porque queria vê-lo e falar-lhe, amanhã voltamos para Coimbra, tive medo de não arranjar outra oportunidade, O vento começou a soprar com mais força, agasalhe-se bem, Não se preocupe comigo, eu é que escolhi mal o sítio para nos encontrarmos, devia ter-me lembrado de que esteve doente, de cama, Uma gripe sem complicações, ou nem isso, um resfriamento, Só volto a Lisboa daqui por um mês, como é costume, vou ficar sem saber o que acontecerá na segunda-feira, Já lhe disse que não tem importância, Mesmo assim, gostaria de saber.

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