É muito importante o livro que reúne a correspondência trocada entre António José Saraiva e
Óscar Lopes e que «andamos a ler» já há algum tempo.
Mas o conteúdo é tão
denso e rico que se torna difícil, em breves trechos, dar uma ideia, pálida que
seja, do muito que nestas cartas se fala.
Dos dois, é António
José Saraiva que ocupa a maior parte do volume.
Algumas vezes traz à
conversa os seus problemas de saúde, económicos, a sua solidão de intelectual
em França.
Nesta carta, datada
de Paris, 5 de Julho de 1969, Saraiva volta a referir os problemas que, na
altura, manteve com o editor Francisco Lyon de Castro das Publicações
Europa-América.
Em Outubro de 1965, carta minha de 31, lembrei ao Lyon de Castro que a
8ª edição da História da Literatura (Colecção Saber), então a imprimir, devia levar a minha chancela, segundo o contrato
assinado. Respondeu em 4 de Novembro que o «o livro já estava à venda» e por
isso não podia ser rubricado.
Em 4 de Abril de 66 o Lyon de Castro noticiava-me que a História da
Literatura tinha sido proibida pela
Censura.
Em 19 de Maio de 1967, os serviços de contabilidade da Europa-América
comunicavam-me, incidentalmente, que a proibição tinha sido levantada,
«encontrando-se de novo a obra à venda».
Segundo saraiva houve
um longo silêncio de Lyon de Castro. Só volta a escrever em 26 de Agosto de
1968 e não falava da História da Literatura.
Entre esta data e 19
de Março de 1969 Saraiva recebeu 8 cartas do editor e em nenhuma era falada o
que se passava com o livro.
«Intrigado com isto perguntei-lhe em carta de 24-3-69 notícias do livro
(além de outros assuntos). Em carta de 10 de Abril respondeu quanto a este
ponto: «História da Literatura portuguesa; responde-se à parte». Mas na carta
não vinha qualquer aparte sobre o assunto.
Em carta de 29 de Abril dizia-me o seguinte: «A libertação do livro
determinou um movimento de vendas que nos forçou a uma rápida reedição de 3000
exemplares em Dezembro/68. No Brasil também se sabia que a obra estava proibida
e logo que ela foi libertada fizemos uma intensa propaganda o que determinou
uma grande procura, a que tivemos de responder rapidamente.»
António José Saraiva
conclui que Lyon de Castro não lidou com lisura com ele.
«Só vejo uma solução para o meu problema com o Lyon de Castro: é
desligar-me dele. Até hoje foi o único editor intrujão que tive e já fui editado
em cinco casas.»
Nada pacífica a vida
de António José Saraiva por terras de França.
Dificuldades de toda
a ordem.
Em P.S. lamenta-se:
«Ainda não recebi os tais 7500$ da Porto Editora de que falavas numa
carta.»
Legenda: Capa da 1º
edição da História da Literatura
Portuguesa (1950) e incluída na Colecção
Saber.
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