segunda-feira, 23 de julho de 2018

É UM INTRUJÃO!


É muito importante o livro que reúne a correspondência trocada entre António José Saraiva e Óscar Lopes e que «andamos a ler» já há algum tempo.

Mas o conteúdo é tão denso e rico que se torna difícil, em breves trechos, dar uma ideia, pálida que seja, do muito que nestas cartas se fala.

Dos dois, é António José Saraiva que ocupa a maior parte do volume.

Algumas vezes traz à conversa os seus problemas de saúde, económicos, a sua solidão de intelectual em França.

Nesta carta, datada de Paris, 5 de Julho de 1969, Saraiva volta a referir os problemas que, na altura, manteve com o editor Francisco Lyon de Castro das Publicações Europa-América.

Em Outubro de 1965, carta minha de 31, lembrei ao Lyon de Castro que a 8ª edição da História da Literatura (Colecção Saber), então a imprimir, devia levar a minha chancela, segundo o contrato assinado. Respondeu em 4 de Novembro que o «o livro já estava à venda» e por isso não podia ser rubricado.
Em 4 de Abril de 66 o Lyon de Castro noticiava-me que a História da Literatura tinha sido proibida pela Censura.
Em 19 de Maio de 1967, os serviços de contabilidade da Europa-América comunicavam-me, incidentalmente, que a proibição tinha sido levantada, «encontrando-se de novo a obra à venda».

Segundo saraiva houve um longo silêncio de Lyon de Castro. Só volta a escrever em 26 de Agosto de 1968 e não falava da História da Literatura.

Entre esta data e 19 de Março de 1969 Saraiva recebeu 8 cartas do editor e em nenhuma era falada o que se passava com o livro.

«Intrigado com isto perguntei-lhe em carta de 24-3-69 notícias do livro (além de outros assuntos). Em carta de 10 de Abril respondeu quanto a este ponto: «História da Literatura portuguesa; responde-se à parte». Mas na carta não vinha qualquer aparte sobre o assunto.
Em carta de 29 de Abril dizia-me o seguinte: «A libertação do livro determinou um movimento de vendas que nos forçou a uma rápida reedição de 3000 exemplares em Dezembro/68. No Brasil também se sabia que a obra estava proibida e logo que ela foi libertada fizemos uma intensa propaganda o que determinou uma grande procura, a que tivemos de responder rapidamente.»

António José Saraiva conclui que Lyon de Castro não lidou com lisura com ele.

«Só vejo uma solução para o meu problema com o Lyon de Castro: é desligar-me dele. Até hoje foi o único editor intrujão que tive e já fui editado em cinco casas.»

Nada pacífica a vida de António José Saraiva por terras de França.

Dificuldades de toda a ordem.

Em P.S. lamenta-se:

«Ainda não recebi os tais 7500$ da Porto Editora de que falavas numa carta.»


Legenda: Capa da 1º edição da História da Literatura Portuguesa (1950) e incluída na Colecção Saber.

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