O tempo foi ensinando muita coisa a quase toda a gente. Mesmo a alguns que não sabem que eu sei que. É melhor mudar de assunto. De qualquer modo, as propostas, anteriores e posteriores ao 25 de Abril, para «rever o meu caso», nunca me dispus, naturalmente, a aceitá-las. Sem alegria, desejo que se saiba. Sem ponta de vaidade, quer queiram crer, quer não. Se os tais olhinhos fixos e brilhantes não são coisa que se esqueça (nunca mais), outro apelo permanece, irrecusável, desde sempre, muito provavelmente para sempre. Ronca mugindo roucamente no espesso nevoeiro. Sem se saber onde o farol estará. Se existirá.
Via tudo agora
mais de longe e, se me dão licença, ainda mais de cima. Ou seja — e assim voltamos
ao ponto de partida... —, o tal orgulho, burguês ou não burguês (pensar-se-á
ainda assim?) que me faz ter o inferno garantido.
Disse
um dia a um jornal que os erros dos que estão mais próximos dos meus ideais,
mesmo só em teoria, nunca
me farão cair nos braços dos inimigos desses mesmos ideais. Disse-o então, digo-o
agora. Amanhã a mesma coisa. Espero.
Mário Dionísio em Autobiografia
Legenda: fotografia
tirada de Autobiografia
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