Nesta cidade sem música
o homem da guitarra gritava o seu segredo
com as mãos em desalinho.
Cristais de crispação
jorravam de uma lua baça
ou quentes do forno da madeira
do linho.
Aí vai a minha vida.
E o homem vergado sobre si, enrolado e mudo,
bordava-se nas suas cordas de aço
macias de suor e livres
do fracasso.
Nesta cidade de ventre abandonado ao vento
mais perverso
ele é uma raiz, uma toalha de água
leve tremor de pálpebras
que retine feliz
no rosto da nossa mágoa.
Colhemos a sonora fruta
que ele deixa tombar das mãos.
E como um rapazinho amedrontado
o homem da guitarra
ainda está aí
à espera de nós, da voz,
de outra cidade.
Talvez de outros irmãos.
Armando Silva
Carvalho em Lisboas
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