Carta de Óscar Lopes,
datada do Porto de 6 de Setembro de 1969 para António José Saraiva:
Primeiro tema: valor paradigmático e profético do Marx. O Marx (ou,
melhor, o duo Marx-Engels) não escreveu um evangelho. Disse e desdisse-se
várias vezes, ao longo de um enriquecimento constante de reflexão e experiência
histórica. Quando uma pessoa hoje se declara marxista assume logo a
responsabilidade de uma interpretação histórica e de uma interpretação
estrutural do marxismo. Neste
sentido, sou e não sou marxista, como aliás o próprio Marx chegou a
dizer de si mesmo.. Mas se insistir mais nos aspectos e interpretações em
que não sou marxista, perco uma arma
importante, que é o prestígio do próprio nome de marxista. Também sou e não sou
democrata, kantista, cartesiano e até mesmo religiosos, A opção por rótulos
como democrata, socialista e marxista, que são os que, por razões conexamente
históricas e estruturalmente doutrinárias prefiro, significa a minha aceitação
de certos fellowtravellers. Mas sou
dos intelectuais portugueses que até hoje melhor conseguiram salvaguardar a sua
independência judicativa.
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