terça-feira, 31 de julho de 2018

DISSE E DESDISSE-SE VÁRIAS VEZES


Carta de Óscar Lopes, datada do Porto de 6 de Setembro de 1969 para António José Saraiva:

Primeiro tema: valor paradigmático e profético do Marx. O Marx (ou, melhor, o duo Marx-Engels) não escreveu um evangelho. Disse e desdisse-se várias vezes, ao longo de um enriquecimento constante de reflexão e experiência histórica. Quando uma pessoa hoje se declara marxista assume logo a responsabilidade de uma interpretação histórica e de uma interpretação estrutural do marxismo. Neste
sentido, sou e não sou marxista, como aliás o próprio Marx chegou a dizer de si mesmo.. Mas se insistir mais nos aspectos e interpretações em que não sou marxista, perco uma arma importante, que é o prestígio do próprio nome de marxista. Também sou e não sou democrata, kantista, cartesiano e até mesmo religiosos, A opção por rótulos como democrata, socialista e marxista, que são os que, por razões conexamente históricas e estruturalmente doutrinárias prefiro, significa a minha aceitação de certos fellowtravellers. Mas sou dos intelectuais portugueses que até hoje melhor conseguiram salvaguardar a sua independência judicativa.

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