quinta-feira, 5 de julho de 2018

COMO O MESMO CORPO QUANDO ESTAVA VIVO


Depois de “Poemas Póstumos, ainda voltei a publicar “Novos Poemas Póstumo"s, no ano de 1990, tinha eu oitenta e quatro anos. Teimoso! Eu sei que era demais mas teve que ser. Publiquei-os com a consciência que os poemas que continha em nada diminuíam, nem acrescentavam, a todos os anteriores. Ei sou comigo tão prudente nas apreciações a meu respeito, e tão isento e cautelosos, como se fosse de um estranho que se tratasse. Não tenho a menor dúvida sobre isso, e regozijo-me de ser assim. O que os outros poemas tivessem valido, estes igualmente valeriam. E com o acréscimo de o autor dos últimos ter oitenta e quatro anos, talvez estes valessem mais alguma coisa do que os anteriores. Ou serão ilusões de quem vos está escrevendo, agora, de um homem que já fez noventa anos?
(…)
Assim dei por terminada a minha vida poética. Desta vez é que resolvi morrer para todo o sempre, e comigo não só morro eu como morre tudo quanto fiz. No futuro um ou outro estudioso falará de mim, bem ou mal, e um ou outro leitor curioso lerá, por acaso, um dos meus poemas. Acidentes, apenas, a que o meu corpo morto, e sorridente, lhes dará tanta importância como o mesmo corpo quando estava vivo.

Rómulo de Carvalho em Memórias


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