sábado, 25 de maio de 2019

AMANHÃ HÁ ELEIÇÕES


Amanhã há eleições.
Eleições para o Parlamento Europeu.
O tempo que faz é de quase Verão e a abstenção será elevada.
Os portugueses pouco ou nada sabem da Europa, também não querem saber.
Durante a campanha eleitoral discutiu-se tudo, menos a Europa.
Sempre que há eleições e, neste dia a que parvamente chamam de reflexão, recordo sempre aquele texto do Manuel Beça Múrias que foi crónica no semanário O Jornal:

«Este domingo, ao declarar o meu nome de cidadão que o 25 de Abril libertou, vou passar em revista, uma a uma, memórias das noites solitárias de Nambuanagongo, quando as hienas vinham ao arame, ao cheiro do coval fresco no cemitério sempre em crescimento.
Este domingo vou poisar com amor a minha mão no ombro do meu filho Pedro e garantir-lhe que o “Vera Cruz” está na sucata.
Este domingo, sim, este domingo, vou limpar na minha mesa o pó do quadrado onde antes esteve instalado o telefone que ditava as ordens do lápis azul, na voz baça do alferes Cirne.
Mas também, claro, este domingo o meu risco azul num quadrado inesperado, (mais “talvez” do que “sim”, mais “cabeça” que “coração”) não é assinatura reconhecida da minha desistência.
Porque, neste domingo, eu estarei de vigília pelas noites em que as Chaimites saíram à rua e as fardas se puseram, por um instante de História, sempre, sempre ao lado do povo.»

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