«Eu nunca tive uma formação
jornalística, nem uma vocação jornalística, digamos; foi alguma coisa que tive
de fazer contra vontade. E aí a regra mandava que se tinha de escrever à
máquina. Devo algumas coisas ao jornalismo. Com certeza, do ponto de vista tecnológico
devo isso. Como estava obrigado a escrever, enfim, com a velha caneta de tinta
permanente, e tampouco com a esferográfica, porque me dá a ideia de que escreve
mais depressa – ou que tudo escreve mais devagar do que aquilo que eu
necessito. A minha máquina era uma máquina velhíssima, que tinha pelo menos 30
anos, uma Hermes Media, toda ela metálica.»
Parágrafo
sublinhado da página 204 de Rota da Vida, José Saramago conversando com jornalistas da Folha de S. Paulo,
Maio de 1989.
Porque tive uma
caneta de tinta permanente Parker.
Desapareceu.
Perdida?
Roubada?
A pena que eu
tenho daquela caneta…
Não mais tive
outra igual.
Não mais terei.
Porque tive uma
máquina de escrever, uma Erika, também toda ela metálica.
Escrevi pouco
com ela.
Os tempos eram
muito difíceis, e uma vez, o meu pai não tinha dinheiro para a renda de casa, e
a máquina foi parar à Casa de Penhores.
Só passados
muitos anos, juros pagos mensalmente, a recuperei.
Um destes dias, fotografo
e coloco-a aqui.
The
Story of My Life, como canta o Neil Diamond.
Legenda: máquina
de escrever de Carlos de Oliveira, também uma Hermes, exposição mo Museu
do Neo-Realismo, Outubro 2017
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