sábado, 4 de maio de 2019

SARAMAGUEANDO


A Comissão Parlamentar de Educação e Ciência aprovou propostas que determinam a contagem do tempo de serviço correspondente ao trabalho que foi efectivamente prestado pelos professores, tal como deverá acontecer relativamente a outros profissionais, nomeadamente funcionários judiciais, juízes, militares e profissionais da GNR.

Face ao sucedido o primeiro-ministro chegou à boca de cena e disse à urbe que se esta lei for aprovada pela Assembleia da Republica o Governo demite-se, e de supetão sugeriu ao Presidente da República eleições para Julho.

Os comentadores políticos que, diariamente, papagueiam pelas televisões, não entendem como se chegou a este caldinho.

Os dirigentes do PSD e do CDS não conseguem perceber como os seus representantes na Comissão Parlamentar de Educação e Ciência aparecem a votar ao lado do Bloco de Esquerda, do Partido Comunista e no, fundo dos fundos,  ao lado de Mário Nogueira.

Estão agora  reunidos para encontrarem algo que os possa  tirar deste imbróglio.

Leio nos jornais que António Costa está a fazer chantagem política, meros calculismos eleitorais, mais não sei quê, introduzindo uma completa e desnecessária instabilidade política.

O Presidente Marcelo ainda não apareceu a dizer o que pensa, ele que é sempre tão célere.

No café do bairro os clientes não se pronunciavam sobre esta trapalhada. A discussão girava à volta da bola e de quem vai ganhar o campeonato.

Também não sei que diga.

Nesta ignorante circunstância, tirei O Ano da Morte de Ricardo Reis da prateleira da estante e reli as peripécias de Lídia quando, por uma manhã, vai levar a bandeja com o café e as torradas a Ricardo Reis e este lhe toca no braço e  de imediato este se recrimina acidamente por ter cedido a uma fraqueza estúpida.

José Saramago aproveita para filosofar:

«São assim os labirintos, têm ruas, travessas e becos sem saída, há quem diga que a mais segura maneira de sair deles é ir andando e virando sempre para o mesmo lado, mas isso, como temos obrigação de saber, é contrário à natureza humana.»

Legenda: a Comissão Parlamentar de Educação e Ciência, em reunião de trabalho, redigindo o documento que levou António Costa, mais os dirigentes do PSD e CDS, à beira de um ataque de nervos.

4 comentários:

Seve disse...

Creio que terá sido o Nikita Kruchtchev que disse que os políticos até prometem construir pontes onde não há rios.

Sammy, o paquete disse...

Tento entender o que vai pelo país político, mas faltam-me qualidades.
Como grande parte do povo – quando dizemos povo não sabemos bem de quem estamos a falar – tudo isto me soa a abstração, a truques.
Não vou desistir de entender o que por aqui se passa, mas confesso que, normalmente, bato de frente num muro.
Tempo então de me refugiar nos livros e ainda agora não sei bem porque, por causa deste assunto, me fui lembrar dos tremer de mãos de Lídia e Ricardo Reis nas manhãs de café e torradas num quarto de hotel, num livro excepcional de que gosto muito e, tanto quanto posso saber, o Jeve sente o mesmo.

Sammy, o paquete disse...

Peço desculpa: queria escrever Seve em vez de Jeve.
Abraço

Seve disse...

Do que por aqui tenho lido (e saboreado) neste belíssimo blogue, com tudo me identifico!