terça-feira, 28 de maio de 2019

SARAMAGUEANDO


Joaquim Vieira no seu Rota de Vida aborda a obra poética de José Saramago. Refere que o seu segundo livro de poesia, Provavelmente Alegria, não teve a mesma aceitação positiva que Os Poemas Possíveis.

Cita um artigo que António Ramos Rosa fez publicar na Colóquio nº 59 de Junho de 1970:

«Os limites bem visíveis da poética de José Saramago, em cujo léxico abundam termos como rosas, nardos, cristais, grinaldas, corais, estrelas, orvalho, não serão decerto os que se podem antever obrigatoriamente para uma linguagem de matizes e formas francamente clássicos, porquanto nos cabe, antes de qualquer reparo, declarar que muitos dos seus poemas, sobretudo em Poemas Possíveis, um belo livro de um poeta amadurecido, são de uma qualidade inegável que transcende e torna falsa qualquer discussão sobre a sua actualidade. Mas se esta justiça lhe prestamos, não podemos, por outro lado em daqueles mesmos valores que pressupõem «ritmo, segurança e consciência», como a sua «Arte Poética» requer, deixar de notar que existem neste seu livro fraquezas que o tornam inferior à sua primeira obra (…) De um modo geral, os poemas não atingem a densidade indispensável, dando a nítida sensação de facilidade de uma precipitação elocutória em que se chega ao verso final sem se ter captado algo de essencial, tudo se perdendo em palavras.»

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