Refugiados da II
Guerra Mundial em Portugal.
Muitos destes
refugiados conseguiram chegar a Portugal mercê de vistos passados por Aristides Sousa Mendes, contrariando ordens expressas de Salazar e da PVDE.
Portugal era um
país de trãnsito, trânsito para a América, quer por via marítima, quer por via
aérea.
Estima-se que
quarenta mil refugiados viveram por alguns dias, outros alguns meses. em
Portugal.
Recorda-se o
diálogo, no findar do filme Casablanca:
Capitão Renault: O avião para Lisboa. Gostava de ir
nele?
Rick: Porquê? O que há em Lisboa?
Capitão Renault: Aviões para a América.
Ou o livro Uma Noite em Lisboa de Erich Maria Remarque:
Demorei-me a olhar fixamente para o navio.
Profusamente iluminado, o barco aguardava fundeado no Tejo. Embora estivesse em
Lisboa há já uma semana, ainda não me habituara à sua iluminação exuberante.
Nos países por onde anteriormente passara, à noite as cidades jaziam escuras
como minas de carvão, e uma lanterna nas trevas era mais temível do que a peste
na Idade Média. Eu vinha da Europa do século vinte.
A embarcação era um navio de passageiros; estava a
receber carga. Eu sabia que o barco tinha partida marcada para a tarde do dia
seguinte. À luz crua das Lâmpadas despidas, caixotes de carne, peixe,
conservas, pão e legumes iam sendo acamados no porão; os estivadores levavam
bagagens para bordo, levantando grades e fardos tão silenciosamente como se
nada pesassem. O navio estava a ser preparado para uma travessia – como a arca
no tempo do dilúvio. Era uma
arca. Cada navio que deixava a Europa naqueles meses de 1942 era uma arca. A
América era o Monte Ararat e o nível das águas enchentes aumentava de dia para
dia. Há muito que tinham submergido a Alemanha e a Áustria, alagavam agora A
Polónia e Praga; Amesterdão, Bruxelas, Copenhaga, Oslo e Paris haviam já sido
inundadas, as cidades de Itália tresandavam de infiltração e nem a Espanha
estava a salvo. A costa portuguesa tornara-se na última esperança dos fugitivos
para quem a justiça, a liberdade e a tolerância eram mais importantes do que a
pátria e os meios de subsistência. Portugal era uma ponte para a América. Quem
não conseguisse alcançá-la, estava perdido, condenado à morte lenta num dédalo
de consulados, esquadras de Polícia e repartições públicas, onde os vistos eram
sempre recusados e as licenças de trabalho e residência impossíveis de se
obter, uma selva de campos de internamento, pesadelos burocráticos, solidão e
saudade onde se definhava perante a indiferença generalizada. Como é habitual
em tempos de guerra, medo e sofrimento, o indivíduo deixava de existir como ser
humano; só uma coisa importava: possuir um passaporte válido
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