Segundo números da Comissão do Livro Negro sobre o
Fascismo, foram proibidas cerca de 3.300 obras pela PIDE.
Sabe-se que o romance de Max du Veuzit, John Chauffeur Russo, foi alvo de
apreensão porque deveria ter algo de subversivo, e que o editor e livreiro José
Ribeiro teve de ir à António Maria Cardoso explicar porque publicara o livro Isto Anda Tudo Ligado de Eduardo Guerra
Carneiro com capa vermelha.
O editor e livreiro Fernando Fernandes disse um dia:
«Quando um editor
suspeitava que um determinado livro estava sujeito a ser proibido combinava
previamente com as livrarias da sua confiança e o envio de uma determinada
quantidade de exemplares, par que no seu armazém ficasse apenas uma quantidade
mínima destinada a uma eventual visita da polícia. Logo que a proibição se
confirmava, as editoras informavam de imediato as livrarias e estas, por sua
vez, tomavam as medidas necessárias, as quais se resumiam a esconder os livros
e a avisar os seus clientes em quem podiam confiar. Para isso tinham já os seus
lugares secretos só acessíveis a poucos. Mas o medo era uma constante, o medo
já enraizado no subconsciente, que se manifestava mais racionalmente sempre que
alguém não conhecido entrava porta adentro. Seria um novo cliente ou algum
agente da PIDE para nos encomendar?»
Foi com base neste esquema, em que imperavam princípios
de respeito e lealdade, que o meu pai com a cumplicidade do Senhor Carvalho,
trabalhador da então Livraria Clássica Editora, nos Restauradores, junto ao edifício
onde era o Cinema Eden, conseguiu, entre outros, adquirir a «Antologia de Poesia Portuguesa do Pás Guerra», organizada por Afonso Cautela e Serafim Ferreira, publicada pela
Ulisseia na altura dirigida por Vitor Silva Tavares, «A Praça da Canção» de Manuel Alegre, editada também pela Ulisseia,
e a Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, organizada por Natália Correia e editada pela Afrodite
de Fernando Ribeiro de Melo, e que, em Junho de 1969, deu origem a um julgamento por, segundo a acusação,«algumas das poesias ou parte delas
ofendem o pudor geral, a decência, a moralidade pública e os bons costumes.»
Diga-se que esta Antologia foi, no início deste mês, reeditada
pela Ponto de Fuga de Vladimiro Nunes, mantém as ilustrações de Cruzeiro Seixas
e também inclui o processo judicial que a sua publicação, no tempo da ditadura, provocou.
Certamente que a encontrarão à venda na Feira do Livro
que hoje abriu taipais.
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