quinta-feira, 9 de maio de 2019

DO DISCO A OUTRA FACE


Já da página me saio, já do álbum me vou com morte e vida, do acetato redondo me projecto noutra circunferência que não esta que lenta em espiras se desfaz. Sob a agulha fina do ouvido, violinos ligaram o chão aos tectos – e sempre os pianos tecla a tecla os anos brancos somaram aos anos pretos. Um murmúrio se ergueu, subiu de tudo – e quando com um lenço afastei nu o pó que pessoas e coisas vestem, botões descobri de madrepérola outros mundos guardando, outras gavetas. Ah, veia azul da pedra mármore! Ah, veia azul, ah, veia múrmura, múrmura sob o pulso quando a mão murmura se pousa sobre o mármore! Surdo estou de sons, cumpri o disco na breve rotação de uma formiga, e pois como formiga ora me passe – e ao longo do carreiro transportando um pó de lusco-fusco outra formiga cumpra do disco a outra face.

Pedro Alvim em Rútilo é o «I»

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