terça-feira, 7 de maio de 2019

OLHAR AS CAPAS


O Triunfo da Morte

Augusto Abelaira
Capa: Sebastião Rodrigues
Sá da Costa Editora, Lisboa, Março de 1981

Explicando-me com mais clareza: ignorasse eu que outros homens desejam comer ou fazer amor e sentiria idênticos desejos. Mas escrever… Escrever como uso gravata, como tomo banho todos os dias, aperto a mão dos amigos, peço desculpa se incomodo alguém. Escrevo porque certa força exterior me estimula, faz parte dos costumes do tempo, se transformou numa forma de promoção intelectual. Um processo de me inserir na sociedade, de me relacionar com os outros. O meio mais sedutor, não o único – poderia dedicar-me ap póquer ou à política. E se dispusesse apenas de um tijolo e dos símbolos cuneiformes, impossível também escrever, preciso de agilidade fenícia, capaz de vencer os mares e as tempestades.
Bom, caí outra vez na filosofia barata (esta modéstia não a tomem à letra), mas se alguma coisa pretendo insinuar é que no meu espírito se meteu a ideia do livro, a ideia dos leitores, não o simples e adolescente anseio de falar comigo próprio. Um acto solidário, um prazer que vive da relação com os outros. Em resumo: procuro cúmplices, procuro cúmplices!

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