O
Triunfo da Morte
Augusto Abelaira
Capa: Sebastião Rodrigues
Sá da Costa Editora, Lisboa, Março de
1981
Explicando-me
com mais clareza: ignorasse eu que outros homens desejam comer ou fazer amor e
sentiria idênticos desejos. Mas escrever… Escrever como uso gravata, como tomo
banho todos os dias, aperto a mão dos amigos, peço desculpa se incomodo alguém.
Escrevo porque certa força exterior me estimula, faz parte dos costumes do
tempo, se transformou numa forma de promoção intelectual. Um processo de me
inserir na sociedade, de me relacionar com os outros. O meio mais sedutor, não
o único – poderia dedicar-me ap póquer ou à política. E se dispusesse apenas de
um tijolo e dos símbolos cuneiformes, impossível também escrever, preciso de
agilidade fenícia, capaz de vencer os mares e as tempestades.
Bom,
caí outra vez na filosofia barata (esta modéstia não a tomem à letra), mas se
alguma coisa pretendo insinuar é que no meu espírito se meteu a ideia do livro,
a ideia dos leitores, não o simples e adolescente anseio de falar comigo
próprio. Um acto solidário, um prazer que vive da relação com os outros. Em
resumo: procuro cúmplices, procuro cúmplices!
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