Este não é o
dia seguinte do dia que foi ontem.
João Bénard da Costa
Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.
As voltas que Abril dá.
Fazemos hoje uma pausa nos acontecimentos
políticos que temos vis a relatar e regressamos à música e será a única
incursão que faremos fora do contexto das músicas de intervenção portuguesas que
já fizemos e outras que estarão por fazer.
A canção é de contexto anti guerra. Um
soldado escreve uma carta ao presidente dizendo das suas razões por que se recusa
pegar em armas.
Le Deserteur tem poema de Boris Vian e música de Harold
Berg e foi editada em 1954.
A versão portuguesa tem o dedo de José Mário
Branco.
Ao Senhor
Presidente
E Chefe da Nação
Escrevo a presente
P’ra sua informação
Recebi um postal
Um papel militar
Com ordem p’ra marchar
Pr’a guerra colonial
Diga aos seus generais
Que eu não faço esta guerra
Porque eu não vim à terra
P’ra matar meus iguais
E aqui digo ao senhor
Queira o senhor ou não
Tomei a decisão
De ser um desertor
Desde que me conheço
Já vi meu pai morrer
Vi meus irmãos sofrer
Vi meus filhos sem berço
Minha mãe sofreu tanto
Que me deixou sozinho
Morreu devagarinho
Nas dobras do seu pranto
Já estive na prisão
Sem razão me prenderam
Sem razão me bateram
Como se fosse um cão
Amanhã de madrugada
Pego numa sacola
E na minha viola
E meto-me à estrada
Irei sem descansar
P’la terra lusitana
Do Minho ao Guadiana
Toda a gente avisar
À guerra dizei “Não!”
A gente negra sofre
E como nós é pobre
Somos todos irmãos
E se quer continuar
A explorar essa gente
Vá o senhor Presidente
Tomar o seu lugar
Se me mandar buscar
Previna a sua guarda
Que eu tenho uma espingarda
E que eu sei atirar”
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