Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.
João Bénard da Costa
Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.
Marcelo Caetano proferiu, no dia 28 de Março de 1974, através da rádio e da
televisão, mais uma das suas habituais «Conversas em Família»
Sabemos que foi a última vez que o fez.
Sem o declarar com todas as letras, Marcelo
pretendia que o que se passou nas
Caldas da Raínha afinal, não passou de uma insignificante irreflecção, ou
talvez ingenuidade de alguns oficiais.
Contudo, no
seu Depoimento, Marcelo Caetano dirá sobre o 16 de Março:
«O episódio das Caldas não devia ser
subestimado, porque decerto os oficiais que o provocaram contavam com apoio que
a pronta reação do governo ou o facto de ter havido precipitação na revolta não
tinham permitido actuar. Esses apoios não desarmariam, procurariam fazer a
“revolução do remorso” para salvarem os camaradas que não podiam deixar de ser
processados e naturalmente punidos por insubordinação.
A revolução que veio efectivamente de surpresa, e conduzida dessa vez com toda a eficiência, em 25 de Abril.»
O «Notícias de Portugal» de 6 de Abril
de 1974, publicava na íntegra a conversa.
Algumas breves passagens:
«De todas as infâmias que os adversários da nossa presença em África têm
posto a correr contra nós e alguns portugueses infelizmente repetem, confesso
que me fere mais a de que defendemos o Ultramar para favorecer os grandes
interesses capitalistas.(…) Os soldados que em África se batem, defendem
valores indestrutíveis, e uma causa justa. Disso se devem orgulhar e por isso
os devemos honrar.
(…) Julgam que posso abandonar esta gente que tão eloquentemente mostrou ser
portuguesa e querer continuar a sê-lo?
Não. Enquanto ocupar este lugar não deixarei de ter os ter presentes, aos portugueses do Ultramar, no pensamento e no coração. Procuremos as fórmulas justas e possíveis para a evolução das províncias ultramarinas, de acordo com os progressos que façam e as circunstâncias do Mundo: mas com uma só condição, a de que a África portuguesa continue a ter a alma portuguesa e que nela prossiga a vida e a obra de quantos se honram e orgulham de portugueses ser.»
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