quinta-feira, 28 de março de 2024

VIAGENS POR ABRIL


           Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                    João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.


Marcelo Caetano proferiu, no dia 28 de Março de 1974, através da rádio e da televisão, mais uma das suas habituais «Conversas em Família»

Sabemos que foi a última vez que o fez.

Sem o declarar com todas as letras, Marcelo pretendia que o que se passou nas Caldas da Raínha afinal, não passou de uma insignificante irreflecção, ou talvez ingenuidade de alguns oficiais.

Contudo, no seu Depoimento, Marcelo Caetano dirá sobre o 16 de Março:

«O episódio das Caldas não devia ser subestimado, porque decerto os oficiais que o provocaram contavam com apoio que a pronta reação do governo ou o facto de ter havido precipitação na revolta não tinham permitido actuar. Esses apoios não desarmariam, procurariam fazer a “revolução do remorso” para salvarem os camaradas que não podiam deixar de ser processados e naturalmente punidos por insubordinação.

A revolução que veio efectivamente de surpresa, e conduzida dessa vez com toda a eficiência, em 25 de Abril.»

O «Notícias de Portugal» de 6 de Abril de 1974, publicava na íntegra a conversa.

Algumas breves passagens:

«De todas as infâmias que os adversários da nossa presença em África têm posto a correr contra nós e alguns portugueses infelizmente repetem, confesso que me fere mais a de que defendemos o Ultramar para favorecer os grandes interesses capitalistas.(…) Os soldados que em África se batem, defendem valores indestrutíveis, e uma causa justa. Disso se devem orgulhar e por isso os devemos honrar.
(…) Julgam que posso abandonar esta gente que tão eloquentemente mostrou ser portuguesa e querer continuar a sê-lo?

Não. Enquanto ocupar este lugar não deixarei de ter os ter presentes, aos portugueses do Ultramar, no pensamento e no coração. Procuremos as fórmulas justas e possíveis para a evolução das províncias ultramarinas, de acordo com os progressos que façam e as circunstâncias do Mundo: mas com uma só condição, a de que a África portuguesa continue a ter a alma portuguesa e que nela prossiga a vida e a obra de quantos se honram e orgulham de portugueses ser.»

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