Este não é o dia seguinte do dia
que foi ontem.
João Bénard da Costa
Será um desfilar de
histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias,
figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação
do dia, mês, ano em que aconteceram.
Permitam que a música e as canções continuem
a ocupar estas Viagens por Abril.
Hoje, aqui se traz Fernando Lopes Graça e Fiama Hasse Pais Brandão. Tal como o José Gomes Ferreira dizia, nos seus poemas para as Heróicas do Graça, «até mortos vão ao nosso lado.»
Naqueles tempos
em que se abriam janelas para que as correntes de ar pudessem entrar, batessem
na cara, juntávamo-nos ao redor de discos e livros, trocávamos impressões,
experiências e admitíamos aquele saber que guardamos nas dobras improváveis do
tempo, que era possível a chegada de um dia claro. A isto se poderia chamar a
memória da esperança. Era disto que se faziam os dias daqueles tempos.
"Lisboa tem suas barcas agora lavradas de armas".
Quando já depois de, ouvidos os discos, muito conversados, razoavelmente bebidos, o Zé Leal lembrava sempre que ficava na memória um som. Um som simples das ausências, das mãos que se fizeram abertas. Ficava também o silêncio. Depois era a debandada. A manhã a anunciar-se, era o começo de mais um dia de trabalho.
"Para a próxima quem é que trás os discos?”
Hoje já não servem as palavras com que dantes se faziam as conversas entre nós. Gastas as palavras, outros os olhares, diferentes os interesses.
Este EP de 33 rpm é o 4º Caderno de composições de Fernando Lopes Graça “compostas em estilo singelo para recreação da gente nova portuguesa – Oito Canções das Barcas Novas”.
Os poemas são de Fiama Hasse Pais Brandão, cantados por Celeste Lino, Manuel Pico, acompanhados, ao piano, por Olga Prats.
O disco, como habitualmente, não indica a data de gravação. Talvez 1972. O preço, esse, pode ver-se no canto superior esquerdo: 73 escudos e 50 centavos qualquer coisa, ao cambio de hoje, como 0,3675 euros. Mas façam contas e acreditem que aqueles 73,50 escudos obrigavam a sacrifícios.
O texto de apresentação, incluído no disco, é de Mário Vieira de Carvalho, escrito num tempo em que era crítico musical e acreditava que existiam amanhãs para serem cantado Os comandos militares informam que um capitão morreu na Guiné e um alferes em Moçambique, ambos “por acidente de viação”, e que cinco outros militares morrerem em combate, também nestas duas províncias.
Num serviço da ANI para os jornais lia-se que “ao contrário do que tem sido noticiado no estrangeiro, não foi expulsa de Moçambique a Irmã Maria del Cali, apenas se verificou o facto de não haver sido renovado o visto de residência. Um informador oficial esclarece que a freira italiana subscrevera uma carta que criticava a acção do Bispo de Tete e certo documento capturado pelas forças portuguesas a um terrorista, indicava-a como uma pessoa ideal para ser contactada pela FRELIMO.”
Em informação, assinada pelo Capitão Correia de Barros, para os jornais, os serviços de censura determinavam: “Em títulos ou subtítulos dos casos passados em Moçambique não pôr: “padres acusados de traição” – como fez “A Capital”.
Um comunicado do Comando-Chefe das Forças Armadas informava que a Srª D. Cecília Supico Pinto, presidente do Movimento Nacional Feminino, continuava a sua visita a zonas no interior da Guiné.
Sem comentários:
Enviar um comentário