quarta-feira, 6 de março de 2024

POR QUE VOTOU VOTAR NA CDU?

Os leitores que fazem o favor de lerem os meus artigos no Diário de Notícias sabem que, sempre que o assunto que abordo justifica, na minha ótica, essa clarificação, assinalo a minha militância no Partido Comunista Português.

Penso que um jornalista, se sente esse impulso cívico, não deve prescindir de participar na vida partidária que está acessível à generalidade dos cidadãos.

Não aceito, aliás, que um jornalista, para o poder ser, passe a ter direitos políticos limitados, seja por ser considerado um cidadão menor ou, contraditoriamente, por ser visto como alguém com acesso a poderes excessivos.

Também não aceito que a militância partidária comprometa, a priori, a minha credibilidade jornalística.

Em primeiro lugar porque não acredito em jornalistas ideologicamente isentos, tenham ou não um partido: toda a gente pensa, vê, ouve e sente o mundo dentro de um determinado quadro intelectual, emocional, cultural e ideológico e, por isso, o jornalista reflete essa moldura mental no seu trabalho.

Em segundo lugar porque acredito em jornalistas de espírito independente e que essa independência pode sobrepor-se ao quadro ideológico interiormente adquirido, que lhes impede a tal isenção “pura e dura”, que nunca é alcançável, mas que, utopicamente, devem sempre perseguir.

Acontece que este é um artigo de opinião, não é uma notícia, não é uma reportagem, não é uma análise (que é coisa diferente de “opinião”, embora esta possa conter análise). Esses géneros jornalísticos exigem, na minha forma de entender a profissão, um “apagamento”, na medida do possível, das convicções pessoais do jornalista.

Num artigo de opinião, pelo contrário, o que é relevante é, precisamente, a convicção pessoal do articulista - e é por isso que volto a informar os leitores da minha militância partidária.

Vou, portanto, no próximo dia 10 de março, votar na CDU, a coligação de que faz parte o tal partido em que milito, o PCP.

Porquê?

Por acaso há uma razão primordial, que ultrapassa a questão de eu ser ou não ser militante do PCP: eu acho que a sociedade portuguesa, 50 anos depois do 25 de Abril, precisa de uma revolução, que elimine as injustiças e as corrupções entretanto feitas às visões de uma democracia social e de uma comunidade livre que motivaram a Revolução dos Cravos.

Esclareço, porém, que ser-se revolucionário no Portugal de 2024 não significa o mesmo que significava em 1974, mas, ao mesmo tempo, resulta da evolução natural das ideias revolucionárias dessa época que se sintetizavam no refrão de uma canção de Sérgio Godinho, isto é, nas palavras Paz, Pão, Habitação, Saúde, Educação.

O PCP quer a paz no mundo de hoje como queria em 1974: nessa altura exigia o fim da Guerra Colonial, da corrida aos armamentos, da confrontação entre blocos, pugnava pela autodeterminação dos povos. Continua a fazê-lo em 2024, seja na Ucrânia, seja na Palestina, seja em qualquer parte do mundo onde haja milhares de mortos, recusando a seletividade contraditória da conveniência política e eleitoral em que os outros partidos caiem.

O PCP lutava em 1974 pelo pão para todos, tal era a miséria vinda do Estado Novo, como luta agora em 2024 por algo mais do que esse mínimo dos mínimos de há meio século, recusando compromissos e “meias-tintas” na noção de “igualdade” ou de “direitos” que outros partidos subscrevem.

O PCP recusava em 1974 que a habitação, a Saúde e a Educação fossem bens para privilegiados, como recusa em 2024 que sejam negócios que aprofundem o fosso entre favorecidos e desprotegidos, exigindo também que o mundo do trabalho tenha um poder determinante na definição dos destinos do país, ao contrário das cedências excessivas ao poder capitalista que quase todos os outros partidos aceitam ou defendem.

Mas então, o que traz de revolucionário o PCP às eleições de 2024 se, basicamente, defende as mesmas causas de 1974?

Traz isto: o PCP é o único partido que defende as suas ideias sem rodeios de linguagem, mas também sem exageros de retórica. Ninguém é enganado com o que o PCP diz. O PCP exprime o que pensa, mesmo que isso lhe custe votos ou, até, o acesso ao Parlamento - este facto, na ditadura do jogo de ilusões que faz a política dos dias de hoje, tem um caráter revolucionário... e é mais uma razão para eu votar na CDU, porque o PCP, sempre lutador, é, serenamente, o único partido revolucionário que resta em Portugal.

 

Pedro Tadeu no Diário de Notícias de hoje             

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