Os leitores que fazem o favor de lerem os meus artigos no Diário de Notícias sabem que, sempre que o assunto que abordo justifica, na minha ótica, essa clarificação, assinalo a minha militância no Partido Comunista Português.
Penso que um
jornalista, se sente esse impulso cívico, não deve prescindir de participar na
vida partidária que está acessível à generalidade dos cidadãos.
Não aceito, aliás,
que um jornalista, para o poder ser, passe a ter direitos políticos limitados,
seja por ser considerado um cidadão menor ou, contraditoriamente, por ser visto
como alguém com acesso a poderes excessivos.
Também não aceito
que a militância partidária comprometa, a priori, a minha credibilidade
jornalística.
Em primeiro lugar porque
não acredito em jornalistas ideologicamente isentos, tenham ou não um partido:
toda a gente pensa, vê, ouve e sente o mundo dentro de um determinado quadro
intelectual, emocional, cultural e ideológico e, por isso, o jornalista reflete
essa moldura mental no seu trabalho.
Em segundo lugar
porque acredito em jornalistas de espírito independente e que essa
independência pode sobrepor-se ao quadro ideológico interiormente adquirido,
que lhes impede a tal isenção “pura e dura”, que nunca é alcançável, mas que,
utopicamente, devem sempre perseguir.
Acontece que este é um artigo de opinião, não é uma notícia, não é uma reportagem, não é uma análise (que é coisa diferente de “opinião”, embora esta possa conter análise). Esses géneros jornalísticos exigem, na minha forma de entender a profissão, um “apagamento”, na medida do possível, das convicções pessoais do jornalista.
Num artigo de
opinião, pelo contrário, o que é relevante é, precisamente, a convicção pessoal
do articulista - e é por isso que volto a informar os leitores da minha
militância partidária.
Vou, portanto, no
próximo dia 10 de março, votar na CDU, a coligação de que faz parte o tal
partido em que milito, o PCP.
Porquê?
Por acaso há uma
razão primordial, que ultrapassa a questão de eu ser ou não ser militante do
PCP: eu acho que a sociedade portuguesa, 50 anos depois do 25 de Abril, precisa
de uma revolução, que elimine as injustiças e as corrupções entretanto feitas
às visões de uma democracia social e de uma comunidade livre que motivaram a Revolução
dos Cravos.
Esclareço, porém,
que ser-se revolucionário no Portugal de 2024 não significa o mesmo que
significava em 1974, mas, ao mesmo tempo, resulta da evolução natural das
ideias revolucionárias dessa época que se sintetizavam no refrão de uma canção
de Sérgio Godinho, isto é, nas palavras Paz, Pão, Habitação, Saúde, Educação.
O PCP quer a paz
no mundo de hoje como queria em 1974: nessa altura exigia o fim da Guerra
Colonial, da corrida aos armamentos, da confrontação entre blocos, pugnava pela
autodeterminação dos povos. Continua a fazê-lo em 2024, seja na Ucrânia, seja
na Palestina, seja em qualquer parte do mundo onde haja milhares de mortos,
recusando a seletividade contraditória da conveniência política e eleitoral em
que os outros partidos caiem.
O PCP lutava em
1974 pelo pão para todos, tal era a miséria vinda do Estado Novo, como luta
agora em 2024 por algo mais do que esse mínimo dos mínimos de há meio século,
recusando compromissos e “meias-tintas” na noção de “igualdade” ou de “direitos”
que outros partidos subscrevem.
O PCP recusava em
1974 que a habitação, a Saúde e a Educação fossem bens para privilegiados, como
recusa em 2024 que sejam negócios que aprofundem o fosso entre favorecidos e
desprotegidos, exigindo também que o mundo do trabalho tenha um poder
determinante na definição dos destinos do país, ao contrário das cedências
excessivas ao poder capitalista que quase todos os outros partidos aceitam ou
defendem.
Mas então, o que
traz de revolucionário o PCP às eleições de 2024 se, basicamente, defende as
mesmas causas de 1974?
Traz isto: o PCP é
o único partido que defende as suas ideias sem rodeios de linguagem, mas também
sem exageros de retórica. Ninguém é enganado com o que o PCP diz. O PCP exprime
o que pensa, mesmo que isso lhe custe votos ou, até, o acesso ao Parlamento -
este facto, na ditadura do jogo de ilusões que faz a política dos dias de hoje,
tem um caráter revolucionário... e é mais uma razão para eu votar na CDU,
porque o PCP, sempre lutador, é, serenamente, o único partido revolucionário
que resta em Portugal.
Pedro Tadeu no Diário de Notícias de hoje
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