terça-feira, 26 de março de 2024

ALGO SEM NOME

Algo que não tem nome

e  que nunca o  terá

procura talvez mover estas palavras

para que sejam portadoras de clemência.

Se nelas florescesse a rosa do vazio

ou o incêndio que fertiliza o grito

ou a suave tempestade das artérias

ou se um relâmpago calcinado na sua trajectória

lhe desse a mais evidente claridade.

Uma ferida não cessa no silêncio branco

e não ascende à boca do poema.

Se a água aqui se fizesse arquitectura

e a sede o fogo a dança o infortúnio

se reunissem num só pulsar de sílabas

e num leve artifício se abrisse a sombra nua!

António Ramos Rosa de Facilidade do Ar em  Obra Poética Vol. II

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