Este não é o dia seguinte
do dia que foi ontem.
João Bénard da Costa
Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.
Esta fotografia pertence ao Museu do Aljube.
É uma das muitas fotografias que mostram o
que foram as primeiras eleições em liberdade: longas filas, horas à espera para
colocar na urna o primeiro voto dum país que se esperava com novos ares.
E sempre que as eleições acontecem, vem à
memória a crónica que o jornalista Manuel Beça Múrias publicou no semanário O
Jornal:
«Este domingo, ao declarar o meu nome de cidadão que o 25 de Abril libertou,
vou passar em revista, uma a uma, memórias das noites solitárias de
Nambuanagongo, quando as hienas vinham ao arame, ao cheiro do coval fresco no
cemitério sempre em crescimento.
Este domingo vou poisar com amor a minha mão no ombro do meu filho Pedro e
garantir-lhe que o “Vera Cruz” está na sucata.
Este domingo, sim, este domingo, vou limpar na minha mesa o pó do quadrado onde
antes esteve instalado o telefone que ditava as ordens do lápis azul, na voz
baça do alferes Cirne.
Mas também, claro, este domingo o meu risco azul num quadrado inesperado, (mais
“talvez” do que “sim”, mais “cabeça” que “coração”) não é assinatura
reconhecida da minha desistência.
Porque, neste domingo, eu estarei de vigília pelas noites em que as Chaimites
saíram à rua e as fardas se puseram, por um instante de História, sempre,
sempre ao lado do povo.»
Lembrar ainda uma frase Arthur Koestler, jornalista e
escritor: «a maturidade dos povos consiste na sua capacidade de reconhecer os
seus próprios interesses».
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