quinta-feira, 21 de março de 2024

COMEÇOS DE LIVROS


Começo de A Angústia do Guarda-Redes Antes do Penalty de Peter Handke:

«Quando o canalizador Josef  Bloch, que tinha sido um conhecido guarda-redes, se apresentou ao trabalho uma manhã, soube que fora despedido».

Há os começos de livros com meia dúzia de palavras. Como neste livro de Peter Handke.

São os melhores começos?

O mês das grandes festas populares em todas as cidades do país. O tempo de perfumes mágicos, o perfume dos manjericos das sardinheiras em flor, de sardinhas assadas, de bifanas de porco fritas. E toneladas de jarros de sangria.

Guardo da infância as quentes noites de Verão, lembro a miudagem a correr nas ruas, e as pessoas vinham para a porta da rua conversar, outras ficavam à janela, as pessoas conheciam-se, falavam, por vezes zangavam-se, outros iam para os jardins, ficavam pelos bancos ou bebiam cervejas e capilés nas leitarias do bairro.

A televisão viria a destruir o feliz convívio das gentes simples do meu bairro. As pessoas fecharam-se nas casas. E passámos a não saber nada uns dos outros, como numa peça de teatro de Peter Handke.

1 comentário:

Seve disse...

Que maravilha de escrito, excelente!