segunda-feira, 25 de março de 2024


 

Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                       João Bénard da Costa

 

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.

 

Os militares do Movimento dos Capitães, agora que sabem que o golpe de estado ocorrerá entre 20 e 27 de Abril, continuam as suas contantes reuniões, Américo Tomás, continua a inaugurar chafarizes e afins, os ministros da ditadura fazem as suas visitas, recebem individualidades diversas, pouco há referir e entende-se que é oportuno voltar à música e a um disco em que Manuel Freire utiliza um poema de António Gedeão. O poeta escreverá nas suas Memórias:

«Eu tenho comigo trinta discos onde foram gravadas canções, feitas por diversos cantores de maior ou menor fama. Sobre poemas meus. Desses trinta discos dois deles foram-me oferecidos pelos seus criadores. Os restantes vinte e oito (e não estou em erro) foram comprados por mim quando, por acaso, os fui encontrando nas montras das casas de discos por onde passava.

O que mais se notabilizou nestas andanças foi o Manuel Freire, um rapaz com voz agradável e talento musical. Quando depois o conheci, e conversei com ele, disse-me que ficara muito impressionado quando leu os meus poemas publicados, pelo seu sentido musical. Particularmente leu a Pedra Filosofal e, espantosamente, impelido pelo ritmo do texto, começara a lê-la e a trauteá-la. Daí lhe nasceu, de imediato a música que tão popular se tornou. Houve quem dissesse no jornal que a Pedra Filosofal marcara toda uma geração.

Tenho comigo cinco discos do Manuel Freire onde ele canta, com música sua, não só a “Pedra Filosofal” como também o “Poema da malta das naus”. Devo-lhe muito. Suponho que foi pela sua actuação que a minha poesia conseguiu tão grande êxito generalizado.»

Quando, em 1969, Manuel Freire aparece no Zip-Zip, a cantar Pedra Filosofal de António Gedeão, não era totalmente um desconhecido. Era um companheiro de viagem, dos que, país fora, andavam por sociedades recreativas a dizer, a quem os quisesse ouvir, que haveria de chegar o dia das surpresas.

Claro que a passagem pelo Zip-Zip projecta Manuel Freire para um outro tipo de público, e muito mais gente ficará, então, a saber que o sonho comanda a vida, que o mundo pula e avança.

Manuel Freire sobre a poesia de António Gedeão: 

«A poesia dele tem um ritmo próprio. Para já, é extremamente clara. Não é daqueles poetas que a gente tem de ler o poema três vezes para perceber o que eles querem dizer. Isso não os torna nem piores nem melhores, torna-os diferentes. O Gedeão não: lê-se à primeira e percebe-se o que quer dizer. E como tem um ritmo, torna mais fácil musicar as coisas. De maneira que foi isso que eu descobri.»

No topo , está o velhinho single, da Biblioteca da Casa,  do Manuel Freire com a Pedra Filosofal, Edição «ZIP-ZIP», com arranjos e supervisão de Thilo Ktasmann , gravado na Nacional Flmes, em 1970, com som de Heliodoro Pires.

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