António Borges Coelho é um dos maiores historiadores portugueses.
O livrinho que hoje se publica em Olharas Capas tem 63 páginas, mas é um tratado histórico do que realmente somos.
Antes e depois de Abril. O pequeno texto que acompanha o olhar sobre a capa, é
sintomático.
Uma outra citação na pág. 31:
«Se os detentores
de monopólios e latifúndios não excedem as duzentas famílias, ainda por cima
assustadas com o 25 de Abril – dir-se-á -, onde está a dificuldade de as ilaquear
no processo? Os monopólios não se reduzem às duzentas famílias. Preso na sua
engrenagem agita-se todo um vasto mundo: administradores, funcionários
superiores, alto e clero, gente estupidificada pela engrenagem da sociedade de
consumo. Que os monopólios, esses sim, não têm rosto e muito menos humano. Têm
siglas: SARL. Têm os cornos do bezerro de oiro que a ignorância, a superstição
e a corrupção venera.»
Por fim, fiquemo-nos com as palavras finais
do livrinho:
«A independência nacional não depende da bondade ou maldade dos homens. Só se conquista verdadeiramente depois dos trabalhadores tomarem o poder. Que, para eles, a nação não se opõe à existência das outras nações, não as encara como presa, como no conceito burguês, antes pressupõe a fraternidade das nações e dos homens, antes pressupõe um conceito novo, uma prática nova que Marx designou justamente como internacionalismo proletário.»
Ex-Militante do Partido Comunista, desfiliou-se
em 1991, disse que sem os tempos de prisão e a preocupação pelas minorias,
nunca teria sido historiador.
Aos 90 anos, no sossego da sua casa na
Parede, está a escrever o 7º volume da sua História de Portugal.
Estava preso em Peniche aquando da fuga de Álvaro Cunhal a 3 de Janeiro de 1960. Não fugiu com os seus camaradas: «Não queria voltar à vida de funcionário do PC e tinha o meu projecto de escrever História, escrever para lá da História.»
Forte de Peniche.
O grasnar sempre
presente das gaivotas, entre outos sons ligados ao mar, permitia aos presos
imaginar a paisagem que os rodeava. Como se pode compreender através do poema «Sou
Barco» de António Borges Coelho, musicado por Luís Cília e cantado por Adriano
Correia de Oliveira: «ouço o fragor da vaga sempre a bater ao fundo,
escrevo, leio, penso, passeio neste mundo de seis passos e o mar a
bater ao fundo».
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