segunda-feira, 8 de março de 2021

PARECE COISA NENHUMA


É sabido que, aqui, pouco se liga aos dias marcantes, seja lá do que for: da mulher, da poesia, da música, do teatro, da mãe, do pai... por aí fora…

Hoje, que da mulher dizem que é dia, não se sabe para que fim, com que resultados, calhou, mas calhou mesmo, por outros motivos, andar às voltas com O Memorial do Convento de José Saramago, que é um autor que, trata muitíssimo bem as mulheres e o que delas, com elas, está relacionado.

Fica a citação, encontrada a págs. 109:

«Quando Baltasar entra em casa, ouve o murmúrio que vem da cozinha, é a voz da mãe, a voz de Blimunda, ora uma, ora outra, mal se conhecem e têm tanto para dizer, é a grande, interminável conversa das mulheres, parece coisa nenhuma, isto pensam os homens, nem eles imaginam que esta conversa é que segura o mundo na sua órbita, não fosse falarem as mulheres umas com as outras, já os homens teriam perdido o sentido da casa e do planeta, Deite-me a sua benção, minha mãe, Deus te abençoe, meu filho, não lhe falou Blimunda, não lhe falou Baltazar, apenas se olharam, olharem-se era a casa de ambos.»

legenda: pintura de Kyriak Kostandi 

5 comentários:

Rui Figueiredo disse...

Com certeza. A Isabel da Nóbrega confirmaria

Sammy, o paquete disse...

Viveram uma história de amor que findou quando tinha de findar, os motivos, cada um saberá quais.
A felicidade não tem história, dizem alguns livros, e acrescentam que a felicidade não depende do que nos falta, mas do bom uso que fazemos com o que temos.
Ajudaram-se um ao outro, no quê, só eles o sabem, mas, contrariamente ao que amigos de ambos disseram, a importância não residiu no pormenor de a Isabel ensinar o José a usar os garfos, as facas, a vestrir-se como deve ser.
Gosto do que ambos escreveram, e não resisto à tentação de colocar aqui o final de «Viver com os Outros», um admirável livro de Isabel da Nóbrega:
«– Lá fora, apagaste a luz, amor?
– Apaguei.
– E fechaste o gás, meu amor?
– Sim, fechei.
- Mas há uma porta que range… Tinha de ser…
– Eu vou fechá-la, amor, eu vou já ver. – Era a porta da varanda. Abri-a de par em par. A fresca noite entrou. É noite. É Junho, amor, e estamos vivos. E não estamos sozinhos. Oh, esta alegria de não estarmos sós.»

Seve disse...

"Memorial do Convento" um livro que contém uma das mais belas histórias de amor que li até hoje!

Seve disse...

Ainda sobre o melhor escritor português depois de Camões- tudo servia para denegrir José Saramago; das coisas mais caricatas era ouvir: Saramago...não gosto, os livros dele nem pontuação têem. Esta foi das maiores barbaridades que ouvi e a muita gente (claro que nunca leram Saramago -nem Saramago nem nada-) mas ainda gostava de saber quem inventou este absurdo.

Rui Figueiredo disse...

Grato pela informação adicional. Quanto ao escritor estou esclarecido, quanto à pessoa o caráter sobrepõe-se ao feitio