O Armindo dizia sempre que era no Tagarro que se comiam as melhores pataniscas de bacalhau.
O Helder Pinho dizia que ao Tagarro não ia porque
havia lá uma empregada que era informadora da PIDE.
A tristeza invadia o rosto do Armindo, que acrescentava
que comíamos só as pataniscas, não falávamos de política.
O Helder perguntava como se podia jantar sem falar de
política.
Tudo acabava na cave de um tasco que havia ali ao fundo
da Calçada do Carmo, junto àquelas escadinhas que dão acesso à Rua 1º de
Dezembro, o «Adriano», chamava-se o tasco. Nunca havia pataniscas, e o Helder
falava sempre dos planos para, num ápice, deitar o Salazar abaixo.
O Armindo para fugir à guerra, deu o salto para Grenoble
e nunca mais dele ouvimos falar.
O Salazar, por um Verão, batera com a cabeça no chão da esplanada de um forte junto ao Tejo, pancada de que veio a morrer.
Foram uns militares que, cansados de muita coisa, deitaram o Marcelo abaixo.
Quando depois encontrei, na rua, o Helder mandou-me à
cara que tinha que ser a merda dos militares!
Tive a vaga ideia de saber o que ele queria dizer, mas
não me lembro do que então lhe disse. Ainda não lera Philip Roth:
«Ninguém sabe a verdade de uma pessoa, e com muita
frequência a própria pessoa menos do que as outras.»
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