quinta-feira, 18 de março de 2021

AINDA EXISTEM AS RUAS


Ainda existem as ruas onde por acaso

nos encontrávamos? Tantos dias correram

num ano, viam-me em dias de mais

desejo apressar os passos, olhar para

o relógio, pôr falhando os discos

nas capas. Parecia ter sido só uma

despedida de um dia para o outro, agora

se escrevo é porque és apenas uma imagem

da memória, pouco faltará para que

guarde de ti um risco, um embaraço.

E sempre chegarei a tactear o rosto,

fingir que me lembro de alguns sinais,

das poucas palavras necessárias para que

eu aceitasse, duas vezes o meu corpo

esteve como teu, outras mais do que

podes pensar. Na volta de uma esquina

não reparo, tropeço, encontro, o último

sorriso começa a nascer.

 

Helder Moura Pereira

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